Prof. Manuel Ruiz Filho colabora com este jornal - manuel-ruiz@uol.com.br
Nós podemos realizar milagres usando a fé como instrumento. Eu não tenho dúvida disso. Quero deixar registrado uma história comovente, que li há algum tempo. Não a inventei, apenas utilizei de minhas palavras para recontá-la fazendo registro para as páginas deste matutino.
Uma garotinha foi para o seu quarto e pegou um vidro de geleia que estava escondido no armário e derramou todas as moedas que nele continha no chão. Contou uma a uma, com muito cuidado, por mais de uma vez. A importância precisava estar exatamente correta porque ela não queria que pudesse haver uma chance de erros. Colocou todas as moedas novamente dentro do vidro e fechou.
Saiu pela porta dos fundos em direção à farmácia mais próxima, cuja placa no alto da parede da farmácia tinha uma propaganda de Emulsão Scott. Esperou com paciência o farmacêutico lhe dirigir a palavra, mas ele continuava ocupado demais. A garotinha, impaciente, arrastava os pés de um lado para outro para chamar a atenção e até tossiu pensando que isso ajudasse na atenção do dono da farmácia, mas nada adiantou. Por fim, tirou uma moeda de 25 centavos do frasco e bateu com ela no vidro do balcão por várias vezes. Aí funcionou. – o que você quer? – perguntou o farmacêutico sem um mínimo de paciência. – Estou conversando aqui com o meu irmão de São Paulo que não vejo há anos e não gostaria de interromper nossa conversa, entendeu menina? Explicou o farmacêutico sem esperar resposta da criança.
– Bem, eu queria falar com o senhor sobre o meu irmão - respondeu a pequena num tom de relativo desespero. – Ele está muito doente, mas muito doente mesmo, e eu quero comprar um milagre. – Desculpe, não entendi. – disse o farmacêutico. – Meu irmão se chama Artur, mas eu o chamo de Tuzinho. Ele tem um caroço muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e o meu pai diz que ele precisa de um milagre. Então, eu queria saber por quanto o senhor me vende um milagre. Quanto custa? – Garotinha, aqui nós não vendemos milagres. Sinto muito, mas não posso ajudá-la. – explicou o farmacêutico num tom bem mais ameno e compreensivo. – Eu tenho dinheiro. Se o que eu tenho não der eu vou buscar o resto. O senhor só precisa me dizer quanto custa.
O irmão do farmacêutico, um senhor bem aparentado, abaixou-se um pouco para perguntar à menininha que tipo de milagre seu irmãozinho precisava. – Não sei. Só sei que ele está muito doente e a minha mãe disse que ele precisa de uma operação, mas o meu pai não tem condições de pagar, então eu queria usar o meu dinheiro. – Quanto você tem? – perguntou o senhor da cidade grande. – Três reais e vinte e oito centavos -, respondeu a garotinha, bem baixinho. – E não tenho mais nada. Mas posso arranjar mais se for preciso. – Mas que coincidência! – disse o homem sorrindo. – Três reais e vinte e oito centavos! O preço exato de um milagre para irmãozinhos! Pegando o dinheiro com uma das mãos e segurando a mão da menina com a outra, ele disse: - Mostre-me onde você mora, porque quero ver o Tuzinho e conhecer seus pais. Vamos ver se tenho o tipo de milagre que você precisa.
Aquele senhor elegante, de origem nipônica, era o dr. Paulo Issamu que trabalha há anos em regime de dedicação integral na direção do serviço de neurocirurgia no Hospital A.C. de Camargo em São Paulo, que oferece tratamento de tumores que acometem o Sistema Nervoso Central de adultos e crianças. A cirurgia foi feita sem ônus para a família e depois de pouco tempo Artur teve alta e voltou para casa. Os pais conversavam alegremente sobre todos os acontecimentos que os levaram àquele ponto, quando a mãe disse em voz baixa: Aquela operação foi um milagre. Quanto será que custaria? A garotinha sorriu, pois sabia exatamente o preço: três reais e vinte e oito centavos! Somados à fé de uma criança, sem dúvida! Em nossas vidas nunca sabemos quantos milagres precisaremos. Um milagre não é um adiamento de uma lei natural, mas a operação de uma lei superior.