Nada como o tempo para passar. O tempo voa, mas permanece cada vez mais indelével na memória e nas esquinas do coração, a lembrança de uma vida em comum, de períodos breves e longos, de muitas risadas e conversas demoradas, gostosas e sempre marcantes. As lembranças são as únicas coisas realmente nossas e essas ninguém nos tira.
Falo do meu pai, que há mais de três anos despediu-se em silêncio, depois de ouvir muitas orações dos seus filhos, e foi habitar entre os celestiais, nos campos sonhados da perenidade da alma. Ele se foi, mas as recordações dos bons momentos ficaram eternizadas e, cada vez mais, viva em nossa imaginação. E são essas reminiscências que me motivaram a lembrá-lo nesse dia tão especial, nesta data quando os filhos por tradição e amor reservam um momento para abraçar o pai. São homenagens sinceras, às vezes, até incompreendidas, mas, sempre amadas.
A vida é passageira. Alguns personagens carregamos no âmbito da nossa alma pela vida afora. São aquelas, que pelo gesto de amor ficaram filmadas na retina dos nossos olhos. E podemos vê-las pela nossa imaginação. Meu Deus, quantas lembranças felizes.
Ele, no seu jeito simples de ser, era arredio a badalações. Nunca foi num campo de futebol, também nunca hesitou em chutar uma bola comigo quando brincávamos no quintal de casa. Não tinha tempo ruim e satirizava com a própria sorte quando as suas economias estavam em baixa. No Natal nunca faltou uma lembrança, um presente simples, e um abraço sincero.
O tempo passa depressa: os anos voam. As crianças ficam adultas e o pai insiste em tê-las sempre como criança. Recorda de cada passo dado na infância, recorda de frases engraçadas que poderiam ter perdido no tempo, da primeira vez na escola, passeios memoráveis, viagens e peripécias. Quanto mais longe vai a lembrança, mas feliz ele se mostrava ao recordar. E, com o peso da idade já, prevendo os seus dias, ele ainda lutava para preservar os seus conselhos sem se dar conta dos tempos modernos, recomendando cuidados, sugerindo caminhos e assumindo postura de amigo leal, sincero e verdadeiro. Grande pai, companheiro a vida inteira.
Se dessas e outras passagens singelas, verdadeiros lampejos de saudade, de que me lembro e que influenciaram na formação do meu caráter, porém, é justamente daqueles momentos que não me lembro, mas que tenho certeza que existiram e que ditaram a minha personalidade como cidadão. É gratificante guardar na memória que um dia lá atrás, ele brincou comigo, correu, chutou bola, me ergueu lá no alto, me contou histórias e me fez feliz.
Foi ele o mais sincero dos meus amigos, o companheiro mais fiel desta jornada, o herói e o orgulho dos filhos. Um dia fechou os olhos e partiu, mas continua vivo na nossa lembrança.