Aos 20 anos, Jefferson dos Santos se viu diante de um desafio recorrente entre os jovens do Brasil: como ingressar no mundo do trabalho, sem deixar os estudos? Mais do que um desejo, era uma necessidade agravada pelo momento econômico do país.
De tantas portas em que bateu, uma abriu-se: o jovem se inscreveu no Centro de Integração Empresa-Escola e foi aprovado na entrevista para a vaga no projeto Aprendiz Legal. Jefferson hoje celebra dez meses de carteira assinada em uma grande empresa do ramo de alimentos.
E o mais importante: com o dinheiro que recebe em seu primeiro emprego, investe em sua educação, pagando a parte da mensalidade que sua bolsa não cobre na faculdade de Marketing e Propaganda.
O exemplo de Jefferson, filho de empregada doméstica e pintor de paredes, dá a dimensão do desafio que é manter na escola os jovens que precisam trabalhar. Uma pesquisa divulgada este ano pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apontou que a média de anos estudados no Brasil é de apenas 7,8 anos, sendo que a obrigatoriedade de oferta é de 14 anos, dos 4 aos 17 anos de idade.
O mais alarmante é que este índice pode sofrer uma estagnação ou até mesmo um retrocesso, caso não consigamos superar rapidamente o atual momento econômico.
Em um país marcado pela desigualdade social, as famílias mais vulneráveis se veem obrigadas a buscar novas formas de renda, e os filhos acabam pressionados a interromper os estudos. Neste cenário, seguir estudando surge como uma grande missão. A educação é o único caminho para o crescimento, para a transformação.
E, para isso, a Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000) desempenha um importantíssimo papel. O texto determina que empresas de médio e grande porte contratem jovens com idades entre 14 e 24 anos como aprendizes.
Durante o vínculo, são capacitados na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática, premissas básicas do Aprendiz Legal. Além de muitos receberem a primeira oportunidade no mundo do trabalho, a lei estabelece a obrigatoriedade de matrícula na educação básica para aqueles que não a tenham concluído.
Enquanto os jovens desenvolvem competências para a vida profissional, os empregadores contribuem para a inclusão, escolaridade e formação de futuros profissionais, difundindo a cultura e os valores da empresa.
Reside aí o ponto mais inteligente desta lei, que concilia trabalho e estudo, especialmente no momento em que a distribuição demográfica no Brasil é extremamente desafiadora — por volta de 2040, o Brasil vai inverter a pirâmide, e esses jovens farão parte da maioria de pessoas adultas no mundo do trabalho.
É claro que, quando há menos postos de trabalho, o percentual de inclusão cai. Mas, mesmo na crise, a lei não muda. Desta forma, cabe a nós nos mobilizarmos para amenizar as consequências e, enfim, diminuir a dívida social que o país tem com a juventude. Há muitos jovens como o Jefferson por aí, basta que as portas se abram.