O tema do artigo seria a longevidade: em 2050, o Brasil terá a quarta maior população de idosos atrás dos EUA, Índia e China que, ao lado das mudanças climáticas, são os maiores desafios e ameaças à sustentabilidade planetária. Questões negligenciadas como se o futuro não despendesse de escolhas antecipadas. A ética intergeracional não é um delírio.
Mudei de ideia, quando me deparei com dados da OMS cuja dimensão define o “Setembro Amarelo”, mês dedicado ao debate e à prevenção do suicídio. Preferi escrever sobre a vida, voluntariamente, interrompida, aos avanços da vida prolongada.
O suicídio não é uma tragédia humana que se dilua em meros “dados estatísticos” a que se referia a monstruosidade estalinista. Estatísticas enviam mensagens e lições.
No mundo, entre 800 mil e um milhão de pessoas se suicidam anualmente, inscrevendo-se entre as dez maiores causas de morte. Para marcar o Dia Mundial da Saúde (07/04), a OMS publicou dados que colocam o Brasil como o quarto país com pessoas diagnosticadas com depressão e o primeiro quando se trata de algum tipo de transtorno de ansiedade. A depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo e a principal causa dos suicídios.
Por mais que se especulem sobre as causas do transtorno de ansiedade e depressão, culminando com a autodestruição, a indicação mais pedagógica é a do especialista, Dan Chisholm: “Trata-se de uma combinação da situação socioeconômica e a realidade da vida de uma população”.
Mas fica na superfície: a certeza da morte é o fator real da angústia. Dois caminhos podem aliviar: a religião que oferece a imortalidade por meio da divina fé nas doutrinas da salvação; a filosofia cujas doutrinas da salvação autocentradas prescindem da ajuda de Deus (Montaigne: “filosofar é aprender a morrer).
Enquanto isso, a angústia cresce: hoje somos velozes e furiosos; sedentos de fama e dinheiro. Sucesso é a palavra de ordem. Estilo de vida, regado a terapias e fármacos.
Outro dia, três amigos almoçamos. Um deles, José, afundado no pântano da depressão. Pediu socorro. Prato intocado. Olhar perdido ou contemplando o chão. Narrativa: considerava-se o mais infeliz dos homens. Concluída a paciente escuta, meu amigo fitou José e falou com solidária doçura: - Ame-se! Seu amor por você é a semente do amor universal que você recebeu e deve repartir! A sobremesa foi devorada.
A boa nova, José está namorando...