Vale registro. Em tempos radicais, quando oponentes cerram os pulsos para agredir todo e qualquer antagonista pelas redes sociais, há no Rio de Janeiro rara e impressionante consonância: Sergio Cabral. Não há quem sinta pena ou defenda o ex-governador. Direita ou esquerda, rico ou pobre, zona sul ou periferia.
Preso na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, réu em uma dezena de processos, Cabral provoca em toda a população os mesmos sentimentos: ojeriza, decepção, desgosto, tristeza.
A transferência de Cabral para uma prisão de segurança máxima, decretada pelo juiz Marcelo Bretas, semana passada, teve o aval inclemente de todo o eleitorado do estado. Há quem considere, no meio jurídico, que Bretas, com tal punição, teria transformado Cabral em vítima. Não é o que pensa o eleitor carioca. O ex-governador tem regalias em Benfica, até guarda-costas. E na audiência judicial, desafiou o juiz, insinuando saber muito sobre a família de Bretas. Tráfico de informações.
Seus advogados pediram desculpas a Bretas. O juiz perdoou, citando a bíblia, mas manteve a transferência, com a fiança do Superior Tribunal de Justiça. Os dias de paz e tranquilidade de Sergio Cabral estão, aparentemente, contados. Numa prisão de segurança máxima, sua vida será mais difícil, mas, comandante de máfia poderosa, Cabral ainda poderá garantir, com alguma bala na agulha, bom tratamento fora do Rio.
O ressentimento da população tem razões de sobra. Cabral provocou no estado um estrago sem precedentes. Não apenas financeiro e político, mas de princípios e credibilidade. A situação do Rio de Janeiro é catastrófica. À corrupção escandalosa, somou-se a má gestão de Cabral e de Pezão, seu sucessor e companheiro. Hoje, quase novembro, há milhares de funcionários públicos que ainda não receberam salários de setembro. A máquina do estado está praticamente paralisada, com gravíssimas consequências.
O carioca, definitivamente, não tem para onde correr. O governo Temer pouco se dá ao que se passa no Brasil, quem dirá no Rio de Janeiro. Um empréstimo milionário vem sendo discutido há meses com a área economica do governo federal. Virá em troca da Cedae, empresa de água e esgoto, que está sendo negociada para pagar dívidas.
Há mais de um mês, o Rio, cidade símbolo do turismo brasileiro, vive e convive com tiroteios diários em várias comunidades. A Rocinha tornou-se campo de guerra. Todos os dias, há notícias de inocentes mortos por balas disparadas por bandidos e policiais. Dezenas de policiais são mortos, numa rotina assustadora. Não bastam tropas federais, que chegam e saem ao sabor da política.
Claro que ainda vai demorar muito para se chegar a normalidade possível, mas do jeito que a banda toca no país, pode levar uma eternidade.
Dados do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nessa segunda pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que o Brasil registrou o maior número de mortes violentas nos últimos 10 anos, e o investimento per capita em segurança pública caiu em 10 dos 17 estados pesquisados.
No Rio de Janeiro, o número de mortes subiu 24,3%, enquanto o gasto recuou de R$ 570,99 para R$ 550,60 por habitante. Em Paulo, não foi diferente: o gasto per capita caiu de R$ 275,85 para R$ 245,69, de 2015 para 2016.
Com esse quadro dramático, e a corrida eleitoral que já começou arrepiando, só nos resta rezar. Para quem tem fé, o jeito é pedir proteção ao Divino.
PS: e o ministro Barroso, heim? Num bate boca histórico, que levantou a saia do Supremo Tribunal federal, estilo Marilyn Monroe, Barroso pôs o guizo no gato. Viva ele.