Vivendo tempos tormentosos, com cada qual envolvido única e exclusivamente com o próprio umbigo, embrutecidos pela selva que domina as relações humanas neste início de século, sonhar transmudou-se em verbo de luxo. Artigo luxuosíssimo, para alguns muito poucos; ou para os muito abestados.
Mais do que nunca é preciso fincar os pés no chão.
Vivemos um salve-se quem puder, e, se isto não é novidade entre as sociedades humanas, de outro lado, poderíamos achar-nos em situação muito melhor já que temos a experiência de séculos e séculos de ações primitivas demais, muito abaixo da dignidade. Qualquer dignidade.
Mas, não é assim que as coisas se dão. O evoluir histório é um vai e vem sem fim; avanços e retrocessos parecem ser a nossa sina.
Vivemos agora como sociedades viveram assoladas por bárbaros: açodados pelo medo, imobilizadas pelo medo, do futuro, da vida, dos outros. Principlamente dos outros.
Como se sabe, o problema entre humanos sempre foi o outro.
É sempre o outro que impede nossa felicidade, não é mesmo?
O outro nos impede de crescer; de sonhar.
E só se cresce pelo sonho.
É sonhando que se edifica a realidade.
É que alguns sonham com facilidades demais; em cortar caminho - e passando, justamente, sobre o sonho dos outros.
Um jogo interminável de perde e ganha, em que os menos aptos a sonhar sempre perdem.
É menos apto a sonhar, o que não foi educado, o que não leu, não viajou, não teve acesso à informação. A esse não é dado enxergar a realidade como um todo, mas uma ínfima parte do que se passa a sua volta. Não cresce, não se desenvolve.
E o seu sonho é limitado. Não lhe é dado expandir-se para além do pouco que conhece.
E, então, reduz-se à ínfima parte do que poderia ser, deixa de acrescer à realidade objetiva o que poderia ser luz, expansão.
Encontramo-nos exatamente aí, num espaço de tempo e de universo, com infinitos apagares de luzes; chamas que poderiam ter sido e não são; não vão ser.
A força brutal dos que dominam os mercados neste início de século, jogam ao limbo quantidades industrias de humanos despreparados para a vida ofegante que se propõe: a vida de estress incessante, a vida doente, a vida sem vida, que se construiu em torno da mais completa ausência e possibilidade de sonho das grandes massas de mão-de-obra barata e insone.
Gente, aos bilhares, que sequer teve ainda tempo de pensar em acordar desse pesadelo.
Dominados completamente por um sistema que não oferece tempo ao raciocínio, ao discernimento, ao pensar, autômatos constroem a realidade que se tem hoje: um mundo de pessoas infelizes, estressadas, doentes, incapazes de fazer frente, de se defender, dos muito espertos que lhes espoliam os sonhos.
E sequer compreender onde e como começa essa desvario todo – essa desvalia toda.