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Enquanto a enfermeira conversava com o paciente do leito 114, o ocupante do leito 117 – um sexagenário que três dias antes tivera um piripaque - experimentou uma sensação de plenitude e calor a percorrer-lhe. A roupa branca da enfermeira estava colada ao corpo impecavelmente firme, colocando em evidência magníficas curvas em que Itamar – esse era o nome do ocupante do leito 117 – imaginou-se deslizando. Pensou em como seria delicioso perder-se do mundo real e encontrar-se no sonho ideal daquela deusa de branco. Do alto de seus sessenta e cinco anos de idade, quarenta deles dedicados à boemia, Itamar jamais vira corpo tão impecavelmente escultural. Era o primeiro dia de trabalho da enfermeira, ela verificou o soro do paciente do leito 114, deu delicados passinhos na direção de Itamar, fitou-o com estonteantes olhos claros, lançou-lhe um sorriso alvo e indefectível e disse com uma delicada voz de anjo: “Bom-dia, eu sou a Glória...” “Concordo inteiramente”, adiantou-se Itamar. “Como é, senhor?” “Bom, é que, eu... eu sou o Itamar, é isso, meu nome é Itamar.” “Eu sei, estou com seu prontuário nas mãos.” “Ah, sim, sim, claro, e qual é seu nome?” “Já disse, meu nome é Glória, como está escrito aqui no crachá.” “Oh! Quando você disse ser a Glória, pensei estar se referindo à magnificência, esplendor, estado de plenitude celeste.” “Entendeu errado, Glória é meu nome.” “Muito prazer, verdadeiramente encantado, Itamar.” “Ao que parece, a conversa não está progredindo.” “Seja como for, já sabemos o nome um do outro, é um começo, digo, temos um ponto de partida, e no que depender de mim, progrediremos.” “Oh, um paciente galante!” “Apenas um paciente franco, verdadeiro.” “Agora vou ver os outros pacientes, daqui a pouco o doutor vai passar por aqui para vê-lo.” E sorridente, a enfermeira afastou-se. Sabia que os pacientes são assim: a carência afetiva, ainda que momentânea, deixa alguns mal-humorados; outros violentos; e há até os ousados, como o Itamar; o importante é não contrariá-los e manter a simpatia. Uma boa enfermeira precisa ser paciente com os pacientes, tem de ter jogo de cintura. E que jogo de cintura tinha a enfermeira do Itamar! Isso, aliás, ficou evidente quando ela se afastou com aquele andar ao mesmo tempo gracioso e tentador. Uma loucura! Os galanteios do Itamar se repetiram durante sete dias. No oitavo dia, logo depois que a enfermeira se retirou, apareceu um médico, olhou para o Itamar e anunciou: “Tenho uma ótima notícia, vou lhe dar alta, senhor Itamar.” “O quê? Não pode fazer isso, não quero ter alta.” “O que é isso? Ter alta é o objetivo de todo paciente, deveria ficar feliz!” “Não estou podendo andar.” “Claro que não, o senhor está deitado, como poderia andar estando deitado?” “Mas... não consigo me levantar...” Não teve jeito, o Itamar teve alta; seus dias de Glória chegaram ao fim. Até hoje a esposa do Itamar não entende o motivo por que o esposo vive dizendo que seria bom ter outro piripaque. O Itamar entende: voltar ao hospital seria a Glória!
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