Leonardo Azambuja (Foto: Reprodução)
Há razões claras para a B12 estar em foco, mas também há exageros ao se pensar que essa preocupação é apenas dos vegetarianos. Engana-se quem imagina ser a falta dessa vitamina um problema daqueles privilegiados que conseguem viver apenas com alimentos de origem vegetal. Várias pesquisas têm mostrado que a falta de B12 atinge um número significativo da população em geral.
No Brasil, pesquisas sobre a deficiência de B12 associada ao uso de medicamentos (metformina) encontraram 17,9% de pessoas com deficiência, em comparação com 5,6% de deficiência em um grupo controle de pessoas sem uso de medicamentos. Outra pesquisa em idosos brasileiros demonstrou deficiência em 17,4%.
A B12 é solúvel em água e tem cor rosa. É a única molécula no corpo dos mamíferos em que o elemento cobalto está presente. Nosso organismo necessita de quantidades muito pequenas dela, apenas dois ou três microgramas por dia.
Além disso, o que encanta os estudiosos dessa vitamina é que nosso corpo consegue viver muitos meses, talvez anos, sem a ingestão dela. Isso é possível porque ela é excretada pelo fígado e reabsorvida pelo intestino, sendo reutilizada muitas vezes.
Sabe-se que todos os mamíferos necessitam dessa vitamina em processos importantíssimos no organismo. Ela é essencial na formação do sangue (eritropoiese), e sua falta pode causar a anemia perniciosa, em que os glóbulos vermelhos ficam muito grandes (e por causa disso é também chamada “anemia megaloblástica”). A B12 atua no metabolismo dos aminoácidos e dos ácidos nucleicos. A vitamina B9 (também conhecida como ácido fólico) precisa da presença da B12 para funcionar adequadamente.
Outra maravilha dessa vitamina é que ela liga nossa sobrevivência ao mundo das bactérias de forma inseparável. É que a B12 não é produzida por animais, nem por plantas, mas única e exclusivamente por algumas bactérias. As plantas não usam a vitamina B12 em seu metabolismo, e não têm a capacidade de armazená-la, mas os animais podem armazenar a B12 em quase todos os tecidos, em especial no fígado. A maioria dos mamíferos possui bactérias em seu trato intestinal que produzem a vitamina B12. A vitamina que se encontra nos alimentos de origem animal não foi produzida ali, mas somente armazenada. A produção da B12 é característica única e exclusivamente de algumas bactérias.
Uma função essencial da B12 é na formação e manutenção do sistema nervoso. Os sintomas neurológicos da carência podem começar com uma ou mais das seguintes situações:
– Aparecimento de dificuldades de memória.
– Sensação crônica de cansaço.
– Sensações estranhas na pele, como formigamentos, coceiras e outras (isso é chamado pelos médicos de “parestesias”).
– Às vezes, perda de sensibilidade.
– Depressão.
– Podendo chegar até a situações mais graves, como dificuldade em mover partes do corpo, com paralisia de alguns movimentos (como, por exemplo, erguer as pernas ou caminhar).
A carência dessa vitamina pode ocorrer em todas as idades, mas as crianças, as gestantes, os idosos, os vegetarianos e os pacientes que realizaram cirurgia bariátrica são os grupos de maior risco, pois a falta da B12 para esses grupos traz consequências muito sérias para a saúde.
Vários pesquisadores têm chamado a atenção para o fato de que ainda não se conhecem bem as múltiplas formas de carência de B12 em crianças abaixo dos quatro anos de idade, em especial nos 12 primeiros meses de vida. Na vida intrauterina e nos primeiros meses de vida, o cérebro está em crescimento e formação acelerados, e a falta dessa vitamina pode causar problemas de diversas magnitudes, dependendo da parte do cérebro que está em formação no momento da carência.
Como podemos saber se há deficiência de B12? Metade das pessoas que possui níveis sanguíneos baixos não apresenta sintomas importantes. A maioria não sabe que sintomas neurológicos (como cansaço crônico, dificuldades de memória, depressão) podem estar sendo causados pela falta de B12.
A dosagem de vitamina B12 no sangue é o melhor método para diagnosticar deficiência. Os níveis normais estão entre 150 ou 200 µg/ml (dependendo do método de dosagem utilizado) até 900 µg/ml. No entanto, algumas pessoas apresentam sintomas de falta de B12 com níveis que hoje são tidos como normais. Por isso, muitos médicos já preferem considerar deficiência níveis abaixo de 490 µg/ml.
Portanto, é bom procurar um profissional capacitado e atualizado para realizar a dosagem da vitamina B12 e avaliar a necessidade e o modo da suplementação.
Leonardo Azambuja é médico especialista em cirurgia geral, nutrologia, ciência da fisiologia humana e longevidade saudável