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É realmente uma pena que a juventude brasileira não leia mais. Não aprenda com os clássicos, não se delicie com as maravilhas produzidas por intelectos privilegiados, que nos conduzem ao etéreo e também nos fazem repensar o Brasil. Autores há que restam esquecidos e que, redescobertos, mostrariam aos nossos moços – em grande parte sem perspectivas e com dificuldade de encontrar o sentido da vida – que a humanidade é a mesma. A história se repete, às vezes como drama, outras vezes como farsa. No final, parece preponderar a tragédia. Um desses escritores que precisariam ser relidos é Curzio Malaparte (1898-1957). Nasceu na Toscana e, filho de pai alemão, foi batizado como Kurt Erich Stuckert. Mostrou senso de humor ao brincar com o sobrenome do grande Napoleão e passou a usar o nome literário de Curzio Malaparte. Escreveu “Técnica de uma Revolução” (1931), que inspirou Benito Mussolini a implementar um governo autoritário à península. Em seguida “Kaput” (1944) e “A Pele”, (1949). O nome do livro deveria ser “A Peste”, mas esse título já fora usado por Albert Camus. É uma peste que nós brasileiros conhecemos bem. Não é o retorno das epidemias de enfermidades que considerávamos extintas, como a febre amarela. Ou aquelas geradas pelo aedes egypti, mais um atestado de nosso acelerado retrocesso em termos de controle das patologias. Mas é algo muito mais grave: a peste moral, que levou tantos a se apropriarem de dinheiro do povo, um povo cada vez mais excluído, cada vez mais espoliado com a carga tributária escandalosa para a qualidade dos serviços públicos. Uma incestuosa relação entre políticos profissionais e empresários inescrupulosos colocou o Brasil na condição de indigência ética, moral, política, econômica e financeira. Trouxe desalento para os milhões de desempregados. Assiste atônito o brasileiro ao extermínio de parte significativa de sua juventude. Convive com a violência cada vez mais cruel e com a violência velada decorrente de perda de valores. Gratidão, solidariedade, fraternidade, respeito, consideração, tudo caiu em desuso nesta terra. Ler Curzio Malaparte não trará surpresa a quem se sente sozinho, a ver triunfar as nulidades e à repetição do mesmo, com os mesmos dizendo o mesmo e fazendo o mesmo. Exceções como a operação Lava Jato não inibiram a continuidade de práticas nefastas em todos os níveis da Nação. Com a conivência de quem teria obrigação maior de coibi-las. Vejam se existe alguma similaridade com o Brasil neste trecho de “A Pele”: “Era uma peste profundamente diversa, mas não menos horrível, das epidemias que no medievo devastavam de quando em quando a Europa. O extraordinário caráter de tal novíssima doença era este: que não corrompia o corpo, mas a alma. Os membros permaneciam, na aparência, intactos, mas dentro do invólucro da carne sã a alma se estragava, se desfazia. Era uma espécie de peste moral, contra a qual não parecia haver defesa alguma”. Mera coincidência ou ratificação de que somos os mesmos, continuamos os mesmos, fazemos as mesmas coisas, numa insensata repetição dos mesmos erros, até que algo mais poderoso ponha fim à nostálgica aventura da criatura racional por este sofrido planeta.
José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, Docente da Uninove, autor de “Ética Geral e Profissional” e Presidente da Academia Paulista d
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