Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Quando o professor, filósofo e escritor Dagoberto chegou ao bar, os casais: Seixas e Sofia, Campos e Mônica, Ramos e Natascha e Hilário e Tânia já estavam no estabelecimento. Dagoberto juntou-se ao grupo. Os nove ali estavam para o já tradicional encontro que realizam depois do Natal e antes da virada do ano.
O Dagoberto cumprimentou o grupo. Examinou o ambiente e perguntou:
“A senhorita Sheylla Karla não vem?”
Ah, Sheylla Karla! Intelectualmente deixa a desejar, mas, indubitavelmente, é a mulher mais bela que já habitou o planeta Terra e, claro, a imaginação de todos aqueles que já tiveram a sorte de vê-la. E aqui não vai nenhum exagero, digo essas coisas com total propriedade, pois eu era um dos felizardos que estavam no bar naquela noite.
Antes que alguém respondesse à pergunta do Dagoberto, um fenômeno fascinante ocorreu. A noite estava clara. De repente, um raio de luz apareceu no horizonte e, pouco a pouco, transformou-se em faixas luminosas multicoloridas que se fundiam umas às outras e flutuavam... Não, não é a descrição da aurora polar – também chamada de aurora boreal no hemisfério norte e aurora austral no hemisfério sul -, e sim de outro espetáculo natural. Era a encantadora Sheylla Karla que estava se aproximando do grupo de amigos. O Dagoberto puxou uma cadeira para a deusa que acabara de chegar. Sheylla Karla sentou-se e o garçom serviu uma rodada de chope.
“Estamos aqui para celebrar nossa amizade e conversar livremente”, disse a Mônica, “como sabem, nosso encontro dos últimos dias do ano já é uma tradição.”
“O ano que está terminando foi um pouco conturbado”, disse a Natascha, “mas o que conforta foi termos mantido nossa amizade sólida como sempre foi.”
“Um brinde à amizade”, sugeriu a Sofia, “e que a nossa permaneça viva e sólida no novo ano que está prestes a começar.”
“Em tempos de distanciamento e intolerância, de deslealdade e grosseria, encontrar um verdadeiro amigo já é um privilégio”, disse o Ramos, depois do brinde, “logo, podemos nos considerar privilegiados.”
“Como mencionou a Natascha, o ano que está terminando foi conturbado”, disse a Tânia, “mas sobrevivemos a todas as tragédias e nos tornamos mais fortes.”
“A maior tragédia brasileira é a banalização das tragédias”, filosofou o Dagoberto, “é preciso olho vivo, coração e prudência para não ficarmos insensíveis.”
“E tragédia é o que não falta”, observou o Campos, “a falta de políticas públicas sérias voltadas à educação e saúde, a cruel e insana concentração de renda que causa a imobilidade das classes menos favorecidas... e por aí vai.”
“Tenho ouvido a fala ingênua de pessoas politicamente alegóricas apontarem para a quebra do status quo, alardeando que figuras de classes abastadas está indo para a cadeia.”, disse o Hilário.
“Grande piada”, disse o Seixas, “todos sabem que os presídios brasileiros são navios negreiros em terra firme.”
“E o governo está abarrotado de militares”, disse a Sofia, “hoje em dia tem mais militares no poder que quando os militares estavam no poder, um tremendo paradoxo.”
“É verdade”, disse o Ramos, “o time está cheio de militares da reserva.”
“Isso explica tudo”, disse a Sheylla Karla, “todo mundo sabe que para se obter sucesso, e ganhar o jogo, é preciso escalar os titulares, não os reservas.”
“Os titulares não podem ser escalados, nem mesmo convocados”, disse o Seixas, “os titulares estão trabalhando, minha cara.”