“E finalmente começou o carnaval”, disse o apresentador do telejornal, “a maior festa popular do mundo já está nas ruas com desfiles de blocos e muita folia.”
Enquanto o homem falava, a TV mostrava cenas carnavalescas em várias cidades.
“O carnaval deste ano vai movimentar a economia do Brasil”, continuou o homem, “o país recebeu e continua recebendo um número recorde de turistas que vai injetar milhões na rede hoteleira, restaurantes e comércio em geral.”
As imagens dos foliões continuavam a desfilar no aparelho de TV.
“E agora vamos ao vivo, direto do desfile de um bloco, com a cobertura da folia, onde está nossa repórter, a incansável Janice Confete.”
Surge na tela, cercada por foliões, uma profissional da imprensa com um microfone na mão.
“É isso aí, Lauro Serpentina”, diz a repórter, sorridente, enquanto é empurrada pelos foliões, “aqui a festa está a todo vapor, os foliões garantem que terão fôlego para pular todos os dias do carnaval.”
“Estamos vendo um mar de foliões em plena animação, mas, diga, Janice, está muito quente aí?”, pergunta Lauro.
“Muito, muito quente”, responde a repórter, “em torno de quarenta graus, mas o calor humano dessa turma eleva a sensação térmica pra oitenta, Lauro.”
“Estamos vendo! É animação total”, diz o apresentador, “e você, vai aproveitar pra cair na folia, Janice?”
“Infelizmente não podemos, estamos mesmo é trabalhando, fazendo a cobertura da festa.”
“Diz uma coisa: como está a segurança da festa? A polícia montou algum esquema especial para garantir a paz no carnaval?”
Surge um policial na cena.
“Sim, estamos aqui com um policial da equipe de segurança...”, disse a repórter.
“Comandante Teófilo”, disse o policial, “montamos uma grande operação para garantir a tranqüilidade dos foliões, temos policiais ao longo de todo o perímetro e eu estou no comando da equipe.”
“E já tivemos alguma ocorrência, comandante?”, perguntou Janice.
“Até o momento tudo em paz, nenhuma ocorrência”, respondeu o comandante, “a presença maciça da polícia inibe a ação de meliantes.”
“E há uma comunicação constante entre os membros da equipe?”
“Positivo, a comunicação é feita através de celulares, tudo muito bem organizado, e no caso de um evento mais sério, como uma confusão generalizada, por exemplo, temos um arsenal completo, de bomba de efeito moral a fuzis e granada de mão.”
“Se tem bomba de efeito moral, por que não joga algumas em Brasília?”, perguntou um pirata que passou agarrado a uma diabinha.
Teófilo pensou em dar uma porrada no folião, mas lembrou-se da equipe de reportagem e se segurou, pouco depois, bateu nos bolsos e disse:
“Só pode ter sido o pirata.”
“Quem?”, indagou Janice.
“O que estava com a diaba. Levaram meu celular.”
“E agora, comandante?”
“Não tem problema, temos uma delegacia móvel montada em um ônibus bem ali no... mas, eu juro que tinha um ônibus ali!...”
Antonio Rocha Bonfim é romancista, contista, poeta, compositor, letrista, intérprete e colunista deste jornal