Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Divulgação)
Olá caro leitor! Terça-feira de carnaval e vamos falar sobre: polêmica! Durante essa semana que passou não se falou de outra coisa na internet: a alta do dólar e a fala de Paulo Guedes, ministro da economia sobre a ida de empregadas domésticas à Disney. Bom, uma coisa de cada vez. Se você tinha planos de viajar para o exterior, com certeza é uma das pessoas que se preocupa com a alta do dólar, já que isso afetaria diretamente na sua vida. Mas fora os custos com uma viagem, você tem ideia de como isso impacta a economia do país?
Para começo de conversa, precisamos entender que ter uma moeda forte é consequência de um país bem estruturado e administrado: tem a ver com reformas, competitividade, produtividade e educação. Já começa por aí: a produtividade do brasileiro é baixa e a competitividade... bom, o Brasil ainda é dominado por monopólios de grandes empresas. Isso sem falar das reformas administrativas que deveriam ser mais rápidas, como a da previdência e a tributária.
Você pode até argumentar: “mas há 10 anos o dólar era baixo e não tínhamos nenhum elemento desses já citados”. Existe ainda outra questão: até o ano de 2015, a nossa taxa Selic estava em 14%. Isso significa que tinha muito dinheiro de estrangeiros investido aqui, pois a uma taxa absurdamente alta assim, quem iria querer investir em renda variável, correndo riscos, se a renda fixa remunerava tão bem? Isso significa que o real estava ARTIFICIALMENTE valorizado, por causa dos rentistas globais (investidores de todos os lugares do mundo, que se aproveitavam da alta rentabilidade de investimentos no Brasil).
Hoje a Selic está em 4,25%, o que deixa o mercado brasileiro desinteressante para os investidores estrangeiros, que querem mais rentabilidade e menos risco. O dólar não está alto por causa de uma crise cambial, mas sim porque está avaliado segundo os patamares econômicos do país, que é subdesenvolvido. Uma moeda valorizada é consequência de um país com mais credibilidade, reformado, produtivo e competitivo. Em contrapartida, se o estrangeiro tira seu dinheiro do país, é uma oportunidade de nós, brasileiros, investirmos mais em nós mesmos. Uma Selic mais baixa motiva o empreendedorismo e promove mais competitividade, dando fôlego para que as empresas, verdadeiras geradoras de riqueza do país (são elas que criam empregos, investem em pesquisa e tecnologia, pagam altos impostos, exportam, etc.), cresçam e produzam mais.
Quanto à fala infeliz do ministro da economia, precisamos esclarecer: as empregadas domésticas que realmente viajavam para a Disney iam acompanhando seus patrões, ou seja, ainda a trabalho. O ministro poderia ter destacado isso de forma menos ofensiva, como comparar preços: nessa época em que o dólar era R$1,40, um jantar em um restaurante refinado no Brasil custava o dobro do que o mesmo restaurante em Nova York; um Big Mac era mais caro no Brasil do que na Alemanha; uma viagem ao Nordeste era mais cara do que a Cancún. Portanto, falar em alta do dólar nesse contexto atual não está ligado apenas à viagem ao exterior, e sim a todo um contexto econômico e de valorização de produção interna que, à longo prazo, pode significar uma valorização significativa do real, tornando-o uma moeda forte. Esse movimento está no começo e nosso papel é conseguir olhar mais a longo prazo para a economia do país. Essa política que só dura 4 anos e só tem por objetivo a reeleição jamais será capaz de construir valor à nossa moeda ou ao nosso país. É preciso ampliar a visão.