Sabe aquele filme que quando termina te faz ficar parado olhando para a TV, em silêncio, olhando as letrinhas subirem enquanto você reflete sobre sua própria vida? É isso que aconteceu quando acabei de assistir o filme “O Estagiário” - que está disponível na Netflix. Ben (interpretado por Robert De Niro) é um senhor de 70 anos viúvo e aposentado que decide voltar a trabalhar com o propósito de sentir-se mais ativo, produtivo e com mais vida, ele se candidata a uma vaga de estágio sênior, voltada para idosos, em uma empresa relativamente nova (18 meses), porém, bem sucedida. É um site de venda de roupas que foi idealizado e criado por Jules Ostin (Anne Hathaway), jovem, casada e mãe de uma filha, trabalha muito, tem muitas ideias, vive muito ocupada e correndo contra o tempo, entre a correria do trabalho e a atenção ao marido e filha ela tem um contato frio e distante com a mãe.
A trama do filme se dá nesse ambiente de trabalho, no contato entre Ben e Ostin que aos poucos vão se conhecendo e passam a ter que conviver juntos por conta do trabalho. O interessante é ver tanto entre Ben e Ostin, quanto na relação dele com os outros colegas, o choque de gerações e o quanto a presença da tecnologia além de ditar o comportamento dos mais jovens, também causou uma mudança um tanto drástica nas relações. A forma de se comunicar, se vestir, a rapidez com que tudo acontece, é possível perceber no filme e comparar com a vida real, o quanto estamos sempre correndo, fazendo mil coisas ao mesmo tempo, realizando tantas tarefas que nem dá para vivê-las de maneira profunda. Ao final de um dia é tanto cansaço e foram tantas atividades que dá a sensação que nossa vida está passando num piscar de olhos, como cenas de filme, às vezes não dá para ter certeza se aquilo foi vivido, se aconteceu ou se estamos só de passagem ou espectadores. No local de trabalho as pessoas sempre muito atarefadas não tem tempo para uma refeição adequada, todos comem sem sentir o gosto, falam depressa, como máquinas que só trabalham, trabalham e trabalham.
Esse modo de viver no trabalho também afeta as relações familiares, e isso fica bem nítido no filme, o quanto Ostin tem seu tempo consumido no trabalho e sua convivência com a família acaba se tornando superficial. Aliás, essa é uma grande questão, que afeta principalmente as mulheres, as mães, que quando bem sucedidas no trabalho, acabam sendo mal interpretadas pela sociedade, que ainda tem dificuldades em aceitar que a mulher pode sim escolher ser uma boa profissional e não abrir mão de sua carreira. E, ao mesmo tempo não vê com bons olhos o homem que fica em casa e decide cuidar da família e dos afazeres domésticos, colocando este no papel de vítima que abre mão de tudo porque tem uma mulher que só pensa em trabalho e não tem a capacidade de cuidar da família, ou como vilão folgado que fica em casa à toa o dia inteiro, enquanto a mulher se mata de trabalhar. Acima de qualquer preconceito ou julgamento, o mais importante é perceber que cada família encontra sua fórmula, e que não precisa haver vilões e mocinhos, o que importa é haver um acordo, um trabalho em equipe e que permite com que cada um faça suas escolhas, se apoiem e que essa união permita o bem comum para a família como um todo.
Mas o ponto que considero mais impactante é o quanto é necessário convivermos e aprendermos com os mais velhos, principalmente com aqueles que são sábios. Ostin diz para Ben numa cena que ela não sabe o que ele tem que a faz sentir mais calma, mais centrada. Acredito que este é o ponto central, a sabedoria torna as pessoas menos impulsivas, mais certas de suas prioridades, menos afoitas e mais observadoras, características que ele possui claramente. Em várias cenas ele demonstra que independente do que ele pensa ou acha, o mais importante é conquistar seu espaço aos poucos, com cuidado e sempre respeitando o outro. E, justamente por isso, ele consegue ser uma pessoa mais gentil, que tem empatia pelo próximo, tentando ajudar naquilo que é possível. Também mostra a importância de se calar quando é devido e de falar apenas aquilo que é necessário, no momento certo. Um filme que faz sorrir, chorar e principalmente refletir, sobre o como a vida passa rápido e como precisamos estar em movimento para nos sentirmos vivos. Mas principalmente nos faz repensar nossa postura diante da vida, do tempo e das nossas relações com o outro e a importância de sermos mais empáticos e menos superficiais, reconhecendo que devemos olhar com mais cuidado para tudo que está a nossa volta, que nos cerca, vivendo o presente de uma forma mais completa e genuína.
*Vanessa Bortolozo é jornalista e especialista em Gestão de Pessoas