Inicio este despretensioso, porém “provocador“, texto com a indicação aos leitores no sentido de colocarem no google (no browser) a frase a seguir e, se puder, assista ao vídeo de curta, até curtíssima duração mas, ampla e significativa mensagem: “Como Era a Sala da Casa do Professor Cortella?”.
Vivemos sob o domínio de um vírus que, ainda que muitos de nós não o entendam como “perigoso”, tomou a todos nós, mesmo àqueles que não foram, ainda, por ele contaminados. Observe ao seu redor, olhe pelas janelas e tente analisar o que foi por ele provocado. Um dos meios hoje “idolatrado” por quase todos os humanos, aquele que conquistou unir povos sob o jugo de ditadores e os venceram, o mesmo que reproduz verdades e mentiras que, no momento vivido, chamamos de “fakes”, fez surgir a duríssima realidade para a qual não estávamos preparados, sequer imaginávamos que poderíamos passar ou tentar passar, mas aqui e acolá estamos submetidos ao seu implacável jugo.
Ele fez surgir descobertas inusitadas. Algumas delas que fizeram com que pessoas, embora casadas e convivendo um mesmo lar (o mais correto seria, dormindo no mesmo espaço), descobrissem como são mutuamente insuportáveis, basta ver a elevação dos índices de violência doméstica. Outros, há sim muitos outros, que descobriram que a sala de sua casa não tem mais as paredes que sempre existiram. Passaram a tocar músicas, dançar em suas sacadas, ou mesmo em seus quartos, olhando para os vizinhos, aqueles mesmos que Cortella afirma que são os “humanos indesejáveis em nossos lares”.
O distanciamento humano e entre humanos, aguçado sobejamente pela tecnologia da comunicação e informação, já estava sendo exacerbadamente denunciado, em especial pelas crianças que, mesmo desejando estar ao lado de seus pais ou familiares, eram abandonados pelos “queridos” pela atenção dedicada aos quadradinhos maravilhosamente inventados pelo homem para comunicarem-se com os distantes. Os próximos, estes podem esperar uma oportunidade ou, como observamos hoje, ir ao quarto, pegar seu quadradinho e começar a dialogar com o papai e mamãe, que estão na sala de suas casas, pelo quadradinho inebriante, cativante, criativo e provocador de fortes emoções do abandono, a solidão em companhia de meus “queridos”.
Com o passar dos dias de isolamento social, mais e mais descobríamos nossa incapacidade de conviver, de “tagarelar” com os humanos que nos são mais próximos e, digamos, “queridos”. O distanciamento entre as paredes de nossas casas superou, em muito, os quilômetros que nos separam de alguns amigos que moram em outras cidades, estados ou países. Tivemos que nos socorrer do “quadradinho” para nos ensinar o que fazer quando estamos “enclausurados” com nossos maridos/mulheres e filhos e não, infelizmente, sabemos o que fazer, para e com eles.
O vírus nos mostrou quando nos distanciamos de nós mesmos, de nossos “queridos” e, por outro lado, os que ainda podem trabalhar no interior de seus lares, quanto trabalham mais e muitos mais em termos de horas do que fazíamos nos escritórios. O expediente do trabalho se encerrava, íamos para o lar e, mais uma vez, com o quadradinho nos comunicávamos com os “colegas de trabalho por horas a fio”. Mas, este tempo foi se esvaindo em meio às dificuldades de vivência no casulo do lar. Ele foi ficando pequeno demais para nossos desejos. E, pasmem, continuamos sem saber o que fazer quando estamos em família. Nos perdemos.
Felizmente, como com um passe de mágica, surgem os “diferentes”, os “malucos belezas” (na nos dizia há muito tempo Raul Seixas). Estes, certamente, nos ajudarão a construir o novo mundo para voltarmos a viver como humanos que nos amamos. Este vírus talvez nos tenha acordado para a vida, não é?