Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Bom dia caro leitor, tudo bem? Na última semana nosso cenário econômico ficou agitado por uma notícia divulgada pelo Banco Central: a criação da cédula de R$200,00. A internet explodiu em quantidade de “especialistas” dando sua opinião sobre o assunto, alguns até profetizando sobre o início de uma era inflacionária e outras diversas teorias catastróficas para a economia do país. Não se desespere: estamos aqui para esclarecer tudo isso.
Alguns temem pelo aumento catastrófico da inflação (o que é compreensível, já que nosso histórico inflacionário é traumático); outros dizem que a cédula está sendo criada para facilitar a lavagem de dinheiro pelos políticos (na mesma mala que cabia R$10 mil, vão caber R$ 20 mil), e tantas outras histórias, a maioria negativas, das consequências que a criação de uma nota com alto valor pode trazer.
A verdade nua e crua é que nossa moeda vem se desvalorizando desde o dia em que foi criada, em 1994: isso não é novidade e a criação da nova cédula não impede nem colabora com essa desvalorização. O maior medo das pessoas é em relação à inflação: ela pode mesmo aumentar?
Bom, você precisa entender que um dos fatores que gera inflação é a quantidade de dinheiro disponível no mercado, combinada a outros fatores como o aumento do consumo. Por causa da pandemia, estamos passando por um período de deflação: as pessoas têm consumido menos. Para controlar esse cenário, o governo vem adotando uma série de medidas de incentivos econômicos, o que poderia aumentar o consumo e, aí sim, em um futuro (que não sabemos quão perto está), pode pressionar a inflação, aumentando-a. A questão é que ainda não sabemos como será a economia pós-pandemia e como seremos afetados.
De acordo com estudos realizados pelo Banco Central, cerca de 60% dos brasileiros usam dinheiro físico para suas transações (isso sem mencionar quantos são desbancarizados) e o cenário atual pode trazer a escassez de cédulas. Por medo e precaução, as pessoas têm guardado mais dinheiro em casa e por isso pode haver a escassez de dinheiro físico. A criação da nova cédula, segundo o Banco Central, é para prevenir um possível aumento de demanda e, além disso, economizar nos custos de logística, já que vivemos em um país de extensão continental: serão impressas 450 milhões de cédulas de R$200,00, totalizando R$ 90 bilhões. De acordo com o BC, fazer a logística desse volume é mais econômico do que se fossem em notas de R$10, R$20 ou R$50. O animal escolhido para estampar a nota foi o lobo-guará.
Na prática, o que muda para a população? Em relação ao real, nada: ele continuará se desvalorizando ou não, dependendo das políticas monetárias e reformas econômicas propostas pelo Governo. Se você é um comerciante, provavelmente vai receber suas contas ou poder pagá-las com notas de R$200. Você também corre o risco de não ter uma nota dessas com tanta facilidade em sua carteira (assim como muitas pessoas não tem notas de R$100). Enfim, na prática, é mais uma opção de transações financeiras.
“Ah, mas e a corrupção?”. Bom, certamente é mais fácil encher uma mala com notas de R$200 do que com R$100. De qualquer forma, a corrupção é um câncer no Brasil e está impregnada na nossa cultura: quando você fura fila; tenta subornar um guarda de trânsito ou estaciona seu carro em lugares não permitidos, você também é corrupto. O que podemos fazer a esse respeito é a nossa parte (que já é bastante): a honestidade começa por você e a partir de então é possível pressionar nossos governantes a serem mais severos contra essa prática. Mas não se desespere, apesar de todos os pesares, estamos de pé há 520 anos.