Renato Nalini (Foto: Divulgação)
Somos peritos em reclamar da vida, em lastimar que os tempos são bicudos e que a cada ano tudo piora. Mas nem sempre aceitamos que dependeria de nós fazer algo para reverter tal sensação.
Li recentemente dois exemplos instigantes, que podem servir de inspiração para quem não sabe o que fazer e acredita que tudo é obrigação do governo.
Um deles é o de Gisele Barreto Fetterman, casada com o vice-Governador da Pensilvania. Carioca de 38 anos, chegou aos Estados Unidos aos sete anos, com a mãe e o irmão. Tornou-se voz ativa em prol da imigração.
Confessa ter sido invisível durante muitos anos. Era a recomendação de sua mãe, temerosa de que a família fosse expulsa. A mãe fugira da violência do Rio, equipou sua casa com móveis jogados ao lixo pelos vizinhos. Trabalhou como faxineira durante o dia e à noite cuidava dos casacos de clientes de um clube. Aprendeu inglês por áudio com fone de ouvido.
A filha estudou nutrição, criou ONG para ajudar famílias pobres a fazer boas escolhas alimentares. Criou também a Freestore, uma loja onde todos os produtos são doados e gratuitos. São 13 unidades na Pensilvania. Outra criação sua: um aplicativo para conectar supermercados e outros doadores de comida a abrigos e ainda o projeto Hello Hijab, que confecciona lenços muçulmanos para bonecas Barbie.
É uma história de superação que deveria animar quem não sabe o que fazer com o tempo ocioso. Outra bela estória é da Primeira Ministra mais jovem da história, a finlandesa Sanna Marin, de 34 anos. “Eu acredito em liderar pelo exemplo”, declara. Seu projeto é transformar a Finlândia em uma economia de bem-estar social, livre de combustíveis fósseis. Sua origem é uma “família arco-íris”: filha de duas mães. Sua definição: “Para mim, as pessoas sempre foram iguais. Não é uma questão de opinião. Essa é a base de tudo”.
A Finlândia já era alvo de minha inveja, porque elaborou uma Constituição mediante participação popular exercida pela internet. Aqui no Brasil, ainda mobilizamos prédios e pessoas para uma logística anacrônica e dispendiosa quando das eleições. E ainda existe a ameaça de retrocesso, para adoção do voto em papel.
Mas a Finlândia investiu em educação desde a primeira infância e leva a sério a educação continuada para os adultos. Isso explica a nossa distância deles.
Também admiro a postura finlandesa em relação ao ambiente: “Precisamos mudar nossas sociedades. Nós não teremos uma segunda chance. Todos os governos e todos os líderes mundiais precisam agir para frear as mudanças climáticas agora”.
Como seria bom que os governantes não fossem surdos a tais apelos. Sanna Marin lidera pelo exemplo. E diz a todas as pessoas, não apenas às mulheres: “Dê um passo adiante. Considere fazer parte de partidos políticos, concorra a cargos políticos em diferentes níveis. Atue! É um direito e uma obrigação de todos tentar fazer mudanças no mundo!”.
Gisele e Sanna fazem coisas que estão inteiramente ao alcance de quem só precisa de um ingrediente: vontade!