Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Além do jornalista encarregado de conduzir a entrevista e do entrevistado, um ufólogo e um gramático estão no estúdio.
“Podemos dar início à entrevista”, diz o jornalista, olhando para o entrevistado, “para acompanhar nosso bate-papo, temos aqui um ufólogo e um gramático que...”
“Espere um pouco”, atalha o entrevistado, “a presença do ufólogo eu entendo, mas... por que o gramático?”
“O gramático é um amante do tema de nossa pauta”, explica o jornalista, “além de ser pessoa culta, respeitada e benquista em nossa sociedade, ele pode lançar luz...”
“Está bem, está bem”, diz o entrevistado, “o gramático pode participar.”
Acertado os últimos detalhes, a entrevista tem início.
“Nosso entrevistado de hoje vai falar sobre um tema intrigante”, diz o jornalista, “uma experiência pessoal de abdução”, e voltando-se para o entrevistado, “diga-nos, quando e como ocorreu o fenômeno?”
“Aconteceu na madrugada do último sábado”, responde o entrevistado, “de repente, vi as luzes no céu que vinham em minha direção, e quando elas chegaram bem perto, notei que eram várias naves interplanetárias, umas em forma de disco e outras alongadas como grandes charutos.”
“Mas que maravilha!”, exclama o ufólogo, “é magnífico sermos visitados por um séqüito de extraterrestres, eles têm um propósito grandioso em relação aos terráqueos, caso contrário, não teriam vindo em comitiva.”
“E como foi o processo de abdução?”, pergunta o jornalista ao entrevistado.
“Extraterrestres saltaram das naves”, responde o entrevistado, “alguns saíram dos discos, outros dos grandes charutos, foi tudo muito rápido, fizeram-me flutuar usando alguma força estranha e, quando dei por mim, estava viajando em um disco voador...”
“E como é que eles eram?”, pergunta o ufólogo, “os extraterrestres eram carrancudos ou tinham a aparência dócil e serena?”
“E que diferença faz? Extraterrestres não são todos iguais?”, indaga o jornalista.
“É evidente que não”, diz o ufólogo, “os venusianos, por exemplo, têm olhos azuis, nariz reto, cabelos louros, e são muito dóceis, elegantes e afáveis; já os marcianos têm corpos mais robustos que os venusianos e aparência mais enérgica, já que pertencem ao raio da força, e também usam vestimenta de guerra.”
“Faz sentido”, diz o gramático, “permita-me uma analogia: melão e melancia são frutos e ambos vêm de plantas herbáceas da família das cucurbitáceas, mas, convenhamos, há, indubitável e inegavelmente, diferença entre melão e melancia.”
“Eu ainda não falei sobre os javalis”, diz o entrevistado, “durante a viagem vi milhares de javalis, uma nuvem de javalis fosforescentes...”
“Nuvem é coletivo de inseto”, diz o gramático, “o coletivo de javali é encame.”
“Enxame não é coletivo de abelha?”, pergunta o jornalista.
“Sim, mas eu disse encame, com c; não enxame, com x”, esclarece o gramático.
“E não foi minha primeira experiência, já fui abduzido inúmeras vezes”, diz o entrevistado, “sempre que enrolo um baseado e...”
“Hei, isso explica tudo! Você estava usando maconha?!”, diz o jornalista.
“Sim”, assume o entrevistado, “e umas coisinhas mais pesadas, mas...”
“E eu aqui perdendo meu tempo!”, exclama o ufólogo, “uma coisa é certa, extraterrestres realmente existem, não nos visitam mais frequentemente porque essa esculhambação toda certamente não interessa a eles.”