Houve tempos em que aprender era decorar as informações transmitidas pelos mestres. O estudo era uma leitura atenta de lições compiladas por docentes que selecionavam o que se deveria memorizar. A produção de conteúdo era limitada. Várias gerações tinham acesso a idêntico material, pois não se inovava em relação ao essencial. Havia certa estabilidade garantidora de formação de certezas. Os argumentos provinham de autoridade.
A origem de “autoridade” se perde no tempo, mas no século XIII, na língua inglesa, provinha de francês arcaico e guardava conotações literárias. Um texto chamado “auctorite” era aquele provido de confiabilidade e suscetível de ser utilizado como argumento cultural ou teológico. Por isso a autoridade emblemática era a Bíblia.
Com o passar dos anos, autoridade também designou alguém cujo conhecimento ou poder conferiam uma aura de respeito e a quem seria adequado obedecer. Havia uma certa reverência em relação ao detentor de conhecimento. Por isso a sua autoridade.
Eis senão quando, isso tudo se transformou. O poder passou a ser encarnado por um crescente conjunto de dados. Estes é que indicam quais os livros mais vendidos, quais os filmes de maior audiência, quais os “influencers” que realmente conduzem as massas.
A era digital permite a qualquer pessoa acesso instantâneo a informações que vão orientar nosso gosto, nossa preferência, nossa adesão ou o nosso repúdio. Se a todos é propiciado externar sua opinião nas redes, a coleta empírica do resultado dessa pesquisa pode ser algo empírico, nem sempre coincidente com parâmetros mais científicos.
Tudo está permanentemente submetido à apreciação de todos. Será que a estatística é suficiente para aferir a qualidade dessas informações? Ou somos levados a digerir aquilo que atraiu maior número de adeptos e a seguir uma cartilha que não coincide com a nossa concepção de mundo?
Desconfio muito de pesquisas. Ao menos, não me considero obrigado a segui-las, quando meu detector personalíssimo recomenda cautela. O fato de um livro ter sido o mais comprado e talvez o mais lido no ano, não significa, necessariamente, seja bom.
O efeito “manada”, tão citado em relação à pandemia, é também aplicável à tentativa exitosa de conduzir as massas, para que elas sejam padronizadas e façam escolhas ditadas por quem? Ora, por ele, o todo poderoso mercado.
O século 21 nos fez mais sábios ou mais desfibrados?