Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Bom dia caro leitor! Tudo bem com você? No último final de semana vários veículos de comunicação informaram que, apesar da inflação do país estar controlada – cerca de 3,92% no último ano – o mesmo indicador, para a camada mais pobre, está na casa dos 5,82% nos últimos 12 meses. Mas o que isso significa? Porque esse índice não é o mesmo para todos?
Vamos começar explicando o que é inflação, uma das medidas mais importantes da economia: ela representa o aumento dos preços no decorrer do tempo, ou ainda, a diminuição do nosso poder de compra, que é nossa capacidade de adquirir bens, produtos e serviços com a nossa moeda. Ou seja, na prática, a inflação se traduz naquela sensação que você tem quando vai ao supermercado: parece que está sempre gastando a mesma coisa, mas tem cada vez menos sacolas nas mãos. Mas essa medida vai além disso: ela também representa a produtividade do país, de forma que ter uma inflação negativa ou muito próxima de zero pode trazer prejuízos à economia ao longo do tempo.
A inflação pode determinar a sua escolha sobre o consumo: se você viveu as décadas de 80 e 90, se lembra que era importante comprar sempre hoje para aproveitar o melhor preço. Era impossível pensar no amanhã, porque a inflação era tão alta, que os preços disparavam de um dia para o outro. Bom, hoje vivemos um momento muito diferente: apesar de termos inflação, ela não chega nem perto do que era nessa época. A questão é: todo país precisa de uma inflação positiva e controlada, mas que seja “invisível” ao consumidor, ou seja, que não tenha o poder de determinar se você vai comprar hoje ou vai esperar para comprar no futuro porque estará mais caro ou mais barato.
Essa medida impacta as diferentes classes sociais de diferentes formas, porque além da inflação do país, ou seja, uma medida macroeconômica, as próprias famílias têm sua inflação pessoal, que representa o aumento do custo de vida familiar dentro de um período. Portanto, essas medidas são sentidas de formas diferentes por cada grupo familiar.
É inquestionável o quanto esse aumento de preços afeta as camadas mais pobres. Imagine a situação: para as classes A e B (renda mais alta), não faz a menor diferença se a inflação está 5%, 10% ou 20%, porque o poder de compra dessas pessoas faz com que elas continuem consumindo da mesma forma. Uma inflação mais alta NÃO determina o que essas famílias vão consumir, porque esse aumento de preços não faz uma diferença significativa no bolso. Entretanto, a inflação de 5% para quem ganha um salário mínimo pode significar ter ou não um determinado alimento na mesa. Em uma gíria de mercado, se diz que a inflação é o imposto dos mais pobres, porque são eles quem sentem mais os efeitos de uma economia mais instável como a brasileira.
Essa medida aumenta por dois fatores principais, entre outros: alto consumo e aumento de moeda no sistema. Na prática, é o alto consumo da população, aliado à concessão de crédito – que fica mais barato com uma taxa Selic a 2%, como nesse momento – e à injeção de dinheiro na economia, por parte dos Governos. Nesse ano de pandemia, por exemplo, tivemos uma alta inserção de dinheiro na economia por meio dos pagamentos de auxílio, o aumento da liberação de crédito para pessoas e empresas (que também é uma forma de impressão de dinheiro), além da impressão de novas cédulas de R$200. Com mais acesso ao crédito, as pessoas consomem mais – o que pôde ser comprovado por meio do estouro de vendas online durante o período de fechamento dos comércios. Quando há aumento do consumo e do crédito sem aumentar a produtividade das empresas, a consequência é a inflação. Na prática, passamos a ter mais dinheiro para comprar os mesmos produtos e serviços. O principal papel do Banco Central hoje é manter a inflação em equilíbrio por meio das políticas econômicas. Vale lembrar que um dos motivos para que ocorra a impressão de dinheiro é o pagamento das obrigações do Estado, ou seja, o pagamento das dívidas do governo: é por isso que o Brasil necessita de uma reforma fiscal, administrativa e orçamentária urgente, porque esses desequilíbrios afetam a vida de toda a população e as camadas mais pobres é quem acaba pagando essa conta.
Sua responsabilidade diante desse contexto é usar o crédito com responsabilidade e cuidar da sua inflação pessoal, porque de nada adianta a medida do país estar na casa dos 3% ao ano se seu custo de vida está aumentando 10% ou 20% ao ano. É por isso que é tão importante manter sua vida financeira em ordem, já que, na maioria dos casos, a sua renda não possui a mesma evolução de um ano para o outro. Além disso, você também pode ajudar a cobrar dos governantes (desde aquele seu amigo vereador) que eles tenham projetos para diminuição dos gastos públicos, especialmente dos privilégios, que são tantos nesse país e saem do seu bolso.