Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Os pescadores estranharam quando, inopinadamente, as águas ficaram agitadas e as embarcações começaram a zimbrar freneticamente. Os pequenos barcos balançavam mergulhando a proa e levantando a popa e vice-versa. A agitação era tal que, até mesmo aqueles homens acostumados a enfrentar o mar bravio ficaram tomados pelo pavor e seguiram às pressas para a praia.
Na praia, os pescadores se reuniram, formando um grupo de doze homens. Todos estavam atônitos. Ribombos foram ouvidos, línguas de fogo riscaram o firmamento, sons ensurdecedores espocaram por toda parte e o dia virou noite. Os doze homens caíram de joelhos. Eram pessoas simples, pescadores humildes, mas possuidores de uma inabalável fé. O grupo fez uma fervorosa prece e, pouco depois, o sol reapareceu e a calmaria voltou a reinar.
Os doze homens realizaram outra prece, desta feita, de sincero agradecimento. Ao final, foram colhidos por nova surpresa: ao longe, na linha do horizonte, surgiu uma pequena embarcação que singrava as águas tranqüilas rumo ao grupo.
O barquinho estava a cerca de trinta metros da praia quando seu Ocupante o deixou e caminhou resoluto na direção dos doze homens. O Homem caminhava sobre as águas como que sobre um grande espelho. Quando chegou onde estavam os pescadores, estes notaram que suas vestes e suas sandálias não estavam molhadas; o fato de uma embarcação tão frágil ter vindo de alto-mar em meio à avassaladora tempestade já não era tão surpreendente.
O Homem que surgira do mar sentou-se em uma pedra. Sua túnica alva ondeava suave com a brisa do leste e seu rosto era sereno e bondoso. Os pescadores foram se juntar a Ele.
“Não há ilhas nesse ponto da costa, de onde veio?”, perguntou um dos pescadores.
“A melhor resposta à sua pergunta é: venho do princípio”, disse o Homem.
“Para onde está indo?”, perguntou outro pescador.
“Eu já estou em todos os lugares”, respondeu o Homem.
“Moramos todos em uma aldeia de pescadores que fica próximo daqui”, disse outro, “e nunca o vimos por aqui.”
“Eu sempre estive aqui”, disse o Homem, “e vocês me conhecem, nós nos conhecemos, acalmei a tempestade em resposta à prece que fizeram.”
O grupo de pescadores ouvia atentamente. Sentado sobre a pedra, o Homem continuou a falar:
“Assim como há o dia e a noite, o som e o silêncio, a tempestade e a calmaria, também há a força positiva e a força negativa; embora o homem quase nunca perceba, essas duas forças travam uma constante batalha dentro dele, por isso lhe foi dado o livre-arbítrio que, a bem da verdade, não se justificaria, não faria o menor sentido se a pessoa não tivesse opções para escolher.”
“Três pontos são fundamentais para a evolução humana”, continuou o Homem, “a reflexão, o exercício da paciência e a prática da caridade; mas, tudo deve ser acompanhado pelo amor, ou de nada valerá, digam essas coisas às pessoas, e expliquem que todo dia é Natal, o Cristo nasce toda vez que se manifesta um gesto de amor.”
Quando Simão acordou, disse feliz Natal. Estavam no mês de maio e as pessoas não entenderam sua fala...
Feliz Natal... Sempre.