Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
A família Cacau é formada por nove membros. Euzébio Cacau – o mais velho da família - é o pai de Otacílio, que é casado com Eloá. O casal Otacílio e Eloá tem três filhos: Rodrigo, Estela e Anselmo. Rodrigo é casado com Cíntia e o casal tem um filho chamado Bruno. Estela é casada com Alípio, este casal não tem filho. Anselmo, por sua vez, é um solteirão boêmio cujos três filhos moram com suas respectivas mães.
A família mora em uma casa de cinquenta metros quadrados, o que, verdade seja dita, caracteriza aglomeração, mas uma aglomeração motivada pela desfavorável condição financeira e não pela imprudência.
O desemprego bateu à porta. E para provar que tudo evolui, o que era ruim ficou péssimo. A família decidiu fazer uma reunião para... Bem, não precisou fazer uma reunião, já que o exíguo espaço da residência fazia com que os membros da família ficassem bem reunidos, na verdade, a família Cacau chegou à conclusão de que devia deliberar sobre a delicada situação financeira que enfrentava. Era preciso elaborar um plano B de sobrevivência, o que era difícil, já que nunca houvera um plano A.
“É preciso procurar uma solução para o grave problema financeiro da família”, disse o velho Euzébio, e justificou a fala, “minha aposentadoria de salário mínimo não é o bastante para pagar água, luz, gás e comida para todos.”
“Minha situação é particularmente incômoda”, disse o Anselmo, “as mães de meus filhos estão exigindo a pensão das crianças, corro o risco de ser preso!”
“Fique tranquilo, maninho”, disse a Estela, “se isso acontecer, suas refeições diárias estarão garantidas.”
“Não fale assim a seu irmão”, protestou dona Eloá, “isso não são modos de falar.”
“O que é isso? Eu só estava brincando”, defendeu-se a Estela.
“A situação é séria”, pontuou o Otacílio, “precisamos encontrar uma solução, alguém tem alguma sugestão?”
“Já sei”, disse a Estela, “vamos empreender.”
“E qual seria o empreendimento?”, perguntou o Rodrigo.
“Não sei”, respondeu a Estela, “não posso pensar em tudo sozinha!”
“Deixemos de lado as bolsonarices, ficar aqui dizendo besteiras não vai nos levar a nada” disse a Cíntia, “precisamos raciocinar para encontrar uma solução.”
“Eu acho que o Bolsonaro evoluiu”, disse o Anselmo, “é verdade que ele dizia muitas besteiras, mas agora, além de dizer ele faz muitas besteiras.”
“A piada foi boa”, disse o velho Euzébio, depois que a turma parou com as risadas, “mas não podemos perder o foco, será que ninguém tem uma boa ideia?!”
“Tive uma ideia”, declarou a Cíntia, “vamos abrir um salão para banho e tosa de cães, e podemos até vender rações e petiscos.”
“A ideia não é ruim”, disse o Rodrigo, “o problema é que a concorrência é muito grande, aqui nas imediações tem doze salões de banho e tosa, sem contar os catorze que faliram no mês passado.”
Várias outras sugestões foram apresentadas, discutidas e descartadas, até que o pequeno Bruno, de apenas oito anos de idade, disse:
“Vamos vender chocolate.”
“Excelente ideia”, disse o Otacílio, “e o nome da família, por si só já é um ótimo marketing, de onde você tirou essa ideia, meu neto?”
“Ora, vovô, funcionou pro Flávio Bolsonaro, não funcionou?”
Ah, a inocência das crianças!