Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Bom dia caro leitor! Tudo bem com você? Segundo dados da última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor – Peic, divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, o cartão de crédito representa a maior dívida do brasileiro, tanto para classes mais baixas quanto para mais altas. Mas porque, afinal, as pessoas têm tantos problemas com isso? No artigo de hoje, falaremos dos principais erros ao lidar com esse instrumento, que é responsável por bagunçar e acabar com a sua paz financeira.
Queremos começar explicando porque ele é tão perigoso. Estudos já comprovam a existência da DOR DO PAGAMENTO: uma versão de dor física que ocorre no nosso cérebro todas as vezes que compramos algo com dinheiro ou usando cartão de débito. Ela está ligada à atenção que você dá à compra e ao tempo entre o consumo e o pagamento. A dor sinaliza de que algo não vai bem e isso deveria ser o suficiente para nos fazer desistir de comprar. Entretanto, ao invés de evitar a dor desistindo da compra, pegamos um atalho e pagamos com cartão de crédito. Essa é a mágica do cartão de crédito: ele separa o tempo do consumo do tempo do pagamento. Isso é tão poderoso que nos dá a sensação de estar consumindo de graça. Por isso, todo cuidado é pouco.
O primeiro erro diz respeito à mentalidade das pessoas em relação ao cartão de crédito: você PRECISA entender que é uma modalidade de EMPRÉSTIMO. Não representa dinheiro infinito e o limite NÃO é algo que você deva contar como receita, no planejamento dos seus gastos. Você paga e se precisar parcelar a fatura, paga MUITO caro. É um dos juros mais caros do país. Já parou para pensar quanto você paga de juros todos os anos? Para agravar ainda mais a situação, os juros também são parcelados em doses homeopáticas, de forma que você sequer percebe.
O segundo erro é utilizar o cartão como substitutivo do dinheiro. Aquele velho pensamento: “não tenho dinheiro para comprar agora, vou passar o cartão”. Lembre-se que essa conta vai chegar e você vai ter que pagar por ela. Portanto, só compre com cartão de crédito aquilo que já faz parte do seu planejamento. Não tem dinheiro, não compre.
O terceiro erro é o mais grave: parcelar várias compras para “gastar menos” e sobrar dinheiro para “comprar mais” dentro de cada mês. Entenda que toda parcela é uma DÍVIDA, por mais que esteja sob controle. O parcelamento tem suas vantagens quando você sabe utilizar o cartão e tem ABSOLUTO controle sobre ele. Se esse não é seu caso, você precisa entender que parcelar é contar com dinheiro do futuro, que você ainda terá que trabalhar para ganhar e imprevistos acontecem o tempo todo. Você pode ser demitido; seu empreendimento pode não ir bem naquele mês; alguém da família pode ficar doente e precisar gastar mais do que o previsto. O maior problema das parcelas é que elas ENGESSAM seu orçamento, tornando seu planejamento menos flexível e mais exposto a desequilíbrios por causa dos imprevistos. Por isso, evitar o parcelamento é o caminho mais seguro.
O quarto erro é ainda sobre parcelamento: NÃO parcele compras que você precisa refazer todos os meses. Supermercado, remédios de uso contínuo, cuidados pessoais, lazer dos finais de semana. Não é sensato parcelar o que você terá que pagar de novo no próximo mês, porque o risco de virar uma bola de neve e desequilibrar tudo é muito grande.
E você deve se perguntar: “mas Grazi, eu nunca mais vou parcelar nada na vida?”. Depende. A situação correta para parcelamento é quando você tem o dinheiro para pagar à vista e ele ficará investido em uma conta, rendendo, para que você vá resgatando e pagando as faturas conforme elas chegam. Se organizar dessa forma, você sempre tem o dinheiro em conta e não precisa contar com dinheiro do futuro, que ainda vai ganhar com seu trabalho. Essa seria a forma ideal de parcelar alguma compra.
Nós, brasileiros, temos um histórico muito conturbado com o uso do crédito. As pessoas aprenderam a contar com o crédito para sobreviver, e isso trouxe a tendência de que as famílias vivem sempre acima da vida que poderiam pagar. Qualquer descontrole nos ganhos, como uma demissão ou queda de salário se torna um problema. A própria pandemia nos mostrou o quão frágil é a vida financeira das pessoas, que ficaram dependentes de auxílios e ajudas para sobreviver. E que fique claro: não estamos falando apenas de pessoas pobres que tiveram seus trabalhos interrompidos, como feirantes ou ambulantes. Estamos falando também de famílias da classe média que se viram desesperadas e passando perrengues porque nunca se organizaram antes. Quer evitar grandes problemas na sua vida financeira? Trate seu dinheiro com a maturidade e a organização que ele merece.