Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Sempre que alguém me pergunta sobre o propósito da Coluna Canto do Conto, respondo a verdade: “Ela foi idealizada com o objetivo de introduzir literatura no cotidiano dos assinantes do Jornal e dos leitores em geral, além de divertir, emocionar e convidar à reflexão trazendo à luz as mazelas sociais contemporâneas, às vezes com refinada ironia. E claro, contribuir para a formação de público leitor.”
A resposta pode ser longa, mas é verdadeira. Canto do Conto existe há cinco anos e meio, ao longo desse tempo, foram publicados 265 textos. Hoje, porém, peço desculpas ao leitor para usar esse espaço com o sincero objetivo de me solidarizar com todos aqueles que choraram e choram a perda de entes queridos, bem como agradecer aos profissionais de saúde, homens e mulheres de fibra que, mesmo com jornadas estafantes e condições adversas, trabalham incansavelmente para salvar vidas.
Vivemos dias beligerantes e confusos. Pululam por aí pessoas que se dizem cristãs, afirmam que Cristo deu a vida pela humanidade e, no entanto são incapazes sequer de demonstrar um pouco de compaixão ao irmão que sangra e sofre. Não bastasse o luto coletivo – mais de 300.000 (trezentos mil) óbitos – causado pela pandemia, o povo ainda recebe, reiteradamente, uma saraivada de coprolalias chulas e grotescas, proferidas exatamente por quem deveria buscar a solução do problema, mas optou por assumir uma postura de absoluta ausência de empatia.
Mas, pra não dizer que não falei de flores – ou de histórias -, vou compartilhar com o leitor um breve relato de que gosto muito.
Às vezes, as ondas depositam as estrelas-do-mar na areia, e se os raios de sol incidem diretamente sobre elas, acabam por matá-las. Havia uma praia que, em determinada época do ano, isso acontecia em larga escala. E foi nessa época, e nessa praia, quando não se podia encontrar na areia um só metro quadrado sem estrelas-do-mar, que um menino, sensibilizado com o problema, apanhava as estrelas e as jogavam de volta ao mar.
Um banhista que, despreocupadamente por ali passava, viu a cena e quis saber por que o garoto fazia aquilo, este lhe disse que era para salvar a vida das estrelas. O banhista olhou para a infinidade de estrelas-do-mar sobre a areia da praia que se estendia até a linha do horizonte e disse que eram tantas as estrelas, que o trabalho do menino não iria fazer nenhuma diferença.
O menino abaixou-se, pegou na areia uma estrela, atirou-a nas águas e disse ao banhista:
“Pode ser que não faça diferença pra você, mas, fez diferença para a estrela que acabei de atirar no mar.”
Podemos e devemos agir como aquele menino da praia, com uma atitude altruísta, visando o coletivo, o bem-estar do outro.
Na atual circunstância pandêmica, estou certo de que aquele menino está usando máscara da maneira correta, fazendo constantemente a higienização das mãos, adotando o distanciamento social e demais medidas de proteção para ele e para os outros.
Creio que a história das estrelas não ficou assim tão fora de contexto, lembremos aquela canção do velho Raul que diz: “Todo homem e toda mulher é uma estrela”. E aqui eu acrescento: “Seja do mar ou não.”
Que Deus conforte e proteja a todos.