Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
“Há uma animosidade no ar que age como gatilho invisível que, uma vez acionado, libera a agressividade, fazendo com que, até mesmo para dizer trivialidades corriqueiras as pessoas fiquem agressivas; ferir o interlocutor parece ser a ordem do dia dos dias em que vivemos; será reflexo da pandemia?”
“É possível, mas a agressividade é multifatorial, a pandemia, eu diria, não é fator determinante, ela apenas potencializou a agressividade que o indivíduo cultivou ao longo da vida e que brotou com estímulos recebidos, é fruto de influências recebidas na caminhada, de experiências pessoais inglórias, do meio externo, da explosiva carga interior latente, da repetição automática do comportamento de rebanho etc.”
“Seja como for, o fato é que a agressividade está na moda, note que pessoas agressivas estão sendo eleitas para ocupar cargos públicos, ou seja, nosso tempo não apenas aprova como também faz questão de premiar a agressividade.”
“Pode até soar estranho e cruel o que vou dizer, mas a verdade é que até mesmo no caos existe um propósito, tudo está exatamente como deveria estar.”
“Como é que você sabe?”
“Elementar, se não fosse para assim estar, não estaria como está; a sociedade merece a situação caótica de nau à deriva na qual está atolada, esta é a mais justa medida de seu merecimento no momento presente.”
“Quer dizer que as pessoas são vítimas e algozes ao mesmo tempo?”
“Sim, e nem adianta culpar seitas satânicas, sociedades secretas, o acaso ou o diabo, homens não são robôs e têm livre-arbítrio e capacidade de raciocínio, devem, pois, responder por seus equívocos e arcar com o ônus de suas ações e/ou omissões.”
“Tudo está irremediavelmente perdido!”
“Nem tudo, as roseiras ainda florescem, e na contramão da aspereza do mundo, as pétalas de rosas continuam apresentando uma textura macia, além de suavizar e perfumar os gonzos da caminhada no exercício de viver.”
“Mas que o momento é intrigante não se pode negar, é bem verdade que sempre tivemos solavancos na trajetória, mas acho muito estranho que ninguém se manifeste, onde estarão os jovens estudantes que ostentavam uma rebeldia clarividente e sensata?”
“Estão por aí e continuam rebeldes, mas, foram convencidos de que adaptar-se é melhor que transformar, agora a rebeldia já não tem causas nobres como outrora.”
“E também é desolador o silêncio dos intelectuais, onde andarão os intelectuais?”
“Estão andando em trepidante chão de sabão à procura de equilíbrio.”
“Há um vácuo sombrio, uma lacuna triste, um momento em que a ausência de sanidade é diuturnamente alimentada pela estupidez; compra-se inglês a conta-gotas, todo mundo está on-line, pedindo delivery no lockdown, com opção de drive-thru.”
“Mosaico de inglês, parafernália, subserviência que corrói identidade cultural, adeus à língua pátria; aponta-se para o QR-Code para ter o feed back.”
“Inteligência só artificial, a natural, sucumbiu; Smartphone, my Deus.”
“Mix, miscelânea, meu God, jogral mixórdia, decepção camoniana.”
“Apaguem a luz, fechem a cortina, a saída continua sendo o aeroporto.”
“Dizem que quando a gente dorme os problemas desaparecem.”
“A insônia me é persecutória, já não consigo dormir.”
“Tente outra vez.”
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzz...
PESADELOS!...