Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Bom dia querido leitor! Tudo com você? Hoje vamos falar sobre a maior dificuldade que as pessoas têm ao tentar organizar suas finanças: reconhecer erros e voltar atrás. Já é comum aqui na nossa coluna, repetirmos a fala do grande educador financeiro Gustavo Cerbasi: educação financeira é sobre fazer boas escolhas. O único problema é que muita gente descobre isso quando já fez muitas escolhas erradas e se sentem incapazes de voltar atrás.
O primeiro grande erro ao tentar organizar o orçamento é começar pelos gastos fixos inevitáveis: moradia, alimentação, educação, transporte. Esse é um erro muito comum porque sempre vamos escolher o melhor que pudermos pagar, o que provoca um engessamento de uma parte muito grande da renda, que vai comprometer os gastos que temos com qualidade de vida e a realização de sonhos.
Escolhemos o aluguel mais caro que couber no bolso (ou a maior parcela possível do financiamento). Escolhemos o melhor carro com a maior prestação que pudermos pagar. Escolhemos a melhor escola para nossos filhos, a melhor roupa, o melhor celular. Com isso, sobra pouco espaço para pagar por lazer, cuidado pessoal, guardar para a aposentadoria e realizar as viagens dos sonhos. Muitos passam a vida sacrificando o que, de fato, os fariam mais felizes, apenas para ter o carro e a casa padrão. “O sonho da casa própria” que afoga todos os outros sonhos.
Deveria ser o contrário: começar escolhendo quanto poupar para a realização de sonhos (entre eles, a aposentadoria) e tentar passar a vida com a maior quantidade de lembranças possíveis. Em segundo lugar, escolhemos tudo que está ligado à qualidade de vida: nosso lazer, cuidado pessoal, momentos que tornam nossa rotina mais leve. E por último, depois de garantir os acontecimentos interessantes que nos farão mais felizes, escolhemos os gastos burocráticos e inevitáveis: moradia, transporte, alimentação. Quem faz o contrário costuma chegar ao final da vida frustrado, com um padrão de vida muito apertado e sem opções de aposentadoria. Justo quando a vida fica mais cara, você é obrigado a continuar trabalhando para manter seu padrão porque o dinheiro do INSS não é suficiente.
Entretanto, é muito difícil inverter essa ordem de escolhas porque, muitas vezes, significa sacrificar um padrão que já foi “conquistado”. Significa abrir mão do financiamento da casa, ou ter um carro mais simples e mais barato; significa sacrificar as roupas de grife ou o celular mais atual. Significa “andar para trás” aos olhos da família e da sociedade. Vivemos uma cultura de consumo em que quem você é depende do que você tem. Os bens são um distintivo social que te incluem em uma determinada classe. Organizar sua vida financeira de modo que você seja mais feliz e tenha mais realizações significa sacrificar seu status quo. “O que vão pensar de mim”?
A pressão é tão grande que pessoas preferem continuar trabalhando para pagar boleto e cartão de crédito, apesar de já possuir conhecimento suficiente para mudar. Ou seja, continuam fazendo péssimas escolhas. O problema disso é que a conta chega: seja porque você vai ser um eterno dependente do sistema (que é falho e com uma série de problemas) ou pior, vai depender dos filhos para as contas mais básicas da sua sobrevivência: seu plano de saúde, sua qualidade de vida. Ou então vai morrer trabalhando, apenas para complementar a renda. E o sonho da aposentadoria vira um pesadelo.
Daqui 10 anos, você desejará ter começado hoje. A escolha é sua: sua reputação vale mais do que a sua felicidade?