A exigência do distanciamento social imposta pelo combate à pandemia do COVID-19, exceto para os que se mantiveram com posicionamentos negacionistas irresponsáveis e que contribuíram para o agravamento da crise, fez surgir inúmeras e diversificadas formas de aproximação entre seres humanos. O distanciamento físico mantido por muitos meses, de certa forma insuportável para seres humanos altamente afetivos, trouxe, também, uma série de transtornos sociais inimagináveis.
A impressa nacional registrou o crescimento de todo tipo de agressões nos lares entre os entes de uma mesma família, surgiram denúncias por parte de mulheres agredidas por seus companheiros, crianças que foram atendidas em pontos de atenção à saúde com lesões corporais inexplicáveis ou decorrentes de ações dos próprios familiares.
A convivência cotidiana obrigatória, o acumular de tarefas do trabalho pelo home office dos pais, as tarefas escolares em meio remoto, por vezes com dificuldades de compreensão pelos adultos para colaborarem com seus filhos, os horários conflitantes entre tarefas e desejos de atenção das crianças e uma série de outros comportamentos afloraram e exigiram alterações significativas de todos os membros da família ou dos que convivem em um mesmo espaço físico, por vezes reduzidos.
Nós, humanos, não estávamos ajustados para este tipo de convívio sistemático, rotineiro, limitante e exigente no campo dos relacionamentos, aceitação e atenção ininterrupta, ainda que entre os entes queridos que, com o tempo, passaram a ser não tão queridos.
A convivência fez surgir a necessidade da aceitação do outro, dos desejos incontidos destes, das carências afetivas aguçadas pela ausência dos outros relacionamentos comuns da vida para além do lar. Não nos preparamos ou imaginávamos tais situações em nossas vidas, não é? E, agora, com o reconhecimento das necessidades que o vírus nos impôs tivemos que nos reinventar em nós mesmos para conviver cotidianamente com nossos amores. Será que estamos conscientes destas novas formas de viver que, por incrível que possa parecer, tornar-se-ão nosso futuro, ou não?