Antes de jogar na Votuporanguense, Fifi chegou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. O craque também fez história em Campinas, onde iniciou a carreira, mas foi aqui que ele escolher ficar. (Foto: Arquivo pessoal)
“Na rede ainda balança o seu último gol” – (Da música “Balada nº 7”, de Moacir Franco)
Uma das glórias do futebol tupiniquim que brilhou nos gramados com a camisa 8 da Alvinegra despediu-se da vida terrena e foi jogar no time dos celestiais. Francisco Santana, nome para os documentos oficiais, ou simplesmente Fifi, para a galera do futebol, partiu deixando uma linda história cravada na memória de cada torcedor que teve o privilégio de vê-lo em campo. Quem conheceu o Fifi tem sempre uma história para contar dele. Um figuraço no linguajar do futebol.
Silvinho Ferrari, de saudosa memória, contava que numa reunião política que ocorria numa noite, no salão do antigo prédio da Associação Comercial, chegou repentinamente o Frei Benjamim, vigário da paróquia. O sacerdote regressava de Piracicaba e tinha uma boa proposta para a Votuporanguense. Então estava à procura de Nasser Marão, que respondia pela contratação de jogadores para a formação do elenco da A.A. Votuporanguense. Quem quer indicar jogador que fale com o Nasser. No entanto, este de imediato refutou a indicação do padre sob argumentos de que o plantel já estaria fechado e não havia perspectivas para novas contratações. Frei Benjamim foi duro na reação: “Olha, não estou falando de mais uma contratação; estou falando de um craque de nível de seleção brasileira”. E, no dia seguinte, uma comitiva incluindo o padre foi buscar o Fifi, em Piracicaba.
Fifi escreveu a sua história dentro das quatro linhas do antigo estádio “Plínio Marin”. E fora dele, onde se apresentasse vestindo a gloriosa camisa Alvinegra. Com as suas jogadas mirabolantes, os seus gols espetaculares, o seu toque de bola apurado e as suas arrancadas que levaram a Votuporanguense a grandes vitórias, o Fifi marcou a sua trajetória em Votuporanga. De todos jogadores que passaram por aqui e vestiram a camisa da Votuporanguense, este é o mais lembrado pelos torcedores quando arriscam a formar a seleção de “todos os tempos” em Votuporanga. Na posição dele não tinha pra ninguém.
Após findar a majestosa carreira, Fifi decidiu viver os seus dias em Votuporanga. Chegou a ensaiar uma carreira de treinador e dirigiu até mesmo o time principal da Votuporanguense, mas não prosperou. Entre os seus hobbys gostava de uma boa pescaria e sempre encontrava amigos para acompanhá-lo. Viveu na simplicidade e morou no Estádio “Plínio Marin” até a véspera da sua demolição. Depois mudou-se para uma casa nas imediações e acabou os seus dias recebendo assistência Asilo São Vicente.
No seu velório ontem foram de poucos amigos. Faltaram bandeira e camisa com as cores da Alvinegra que ele tanto honrou. Um grupo religioso que tinha a torcedora símbolo Marlene Barbin oficiou. Ao baixar a sepultura, ontem, no Cemitério Jardim das Flores, recebeu uma salva de palmas prolongadas. Eram apenas cinco amigos, os únicos presentes. “Uma torcida de sonhos, aplaude talvez”, diz a música feita para o Garrincha mas encaixa direitinho na história do Fifi. Outros jogadores do seu tempo lhe esperam no céu.
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* João Carlos Ferreira é jornalista, diretor do Grupo Cidade de Comunicação
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