Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Bom dia, querido leitor! Como vai você? Esperamos que bem, apesar de todo o contexto. Não é novidade para ninguém que os preços dispararam: se você frequenta um supermercado, já sabe que a sensação é de que está fazendo compras em um aeroporto. O preço do litro da gasolina batendo R$7,00. Todos falando em aumento da conta de energia. Mas, o que está acontecendo, afinal?
Bom, precisamos começar explicando, em poucas palavras, o que é a inflação, definida como o aumento de preços dos produtos em um período de tempo. Também pode ser entendida como a desvalorização da moeda no tempo: quando o Banco Central anuncia que a meta de inflação é de 3%, isso pode ser lido como: “pretendemos desvalorizar o Real em 3% neste ano”. E desvalorizar a moeda significa diminuir seu poder de compra: ou seja, a cada dia que passa, você consegue comprar MENOS coisas com seu dinheiro. Se você viveu o final dos anos 1990, certamente se lembra que uma compra mensal no supermercado custava cerca de R$100. Hoje, os mesmos R$100 compram duas sacolas de produtos (e olha lá). Isso é perder seu poder de compra.
Porque a inflação ocorre? Basicamente, toda vez que ocorre choque entre oferta e demanda, ocorre inflação. Traduzindo: toda vez que existem mais consumidores do que produtores de um determinado produto, seu preço sobe. Esse é o movimento natural dos preços em uma economia e, nesse caso, a inflação é momentânea: se algo está ficando muito caro, é porque vale a pena produzir - mais produtores entram no jogo e, em pouco tempo, os preços se equilibram pela lei da oferta e da demanda. Porém, esse movimento natural possui interferências de políticas econômicas ou decisões governamentais. Vamos explicar isso melhor.
Uma das formas que o governo tem de interferir na economia é aumentando o dinheiro no sistema: isso pode ser feito de muitas formas, e as mais comuns são a impressão de papel moeda e o crédito mais barato. Portanto, vivemos uma inflação que já era esperada desde o ano passado, quando o governo promoveu uma injeção gigantesca de dinheiro no sistema para lidar com a pandemia: o lado da demanda por produtos aumentou. Em paralelo, também por causa da pandemia, tivemos a paralisação das atividades produtivas (o lado da oferta diminuiu). Olha o choque de oferta X demanda aí: alto consumo e oferta insuficiente - inflação.
Existe ainda um terceiro motivo que interfere no movimento de preços: as commodities, que são os produtos básicos para a produção de todos os outros produtos – petróleo, minério de ferro, soja, milho, carne, trigo, borracha, etc. As commodities são comercializadas em dólar – trata-se de um comércio global – e a produção de quase tudo depende delas: se o preço do dólar aumenta, o preço de quase tudo é impactado por isso.
Isso tudo, sem mencionar que, quando falamos de economia, nada acontece por acaso: muito do que pagamos hoje é reflexo de decisões econômicas passadas. Parte do preço da energia que pagamos hoje, por exemplo, é consequência da interferência do governo nesse setor em 2012. Na época, o governo forçou a diminuição da tarifa de energia (isso seria assunto para outro artigo). Fato é que: estamos pagando essa conta. Esses custos da interferência nos preços NUNCA somem da economia: alguém paga em algum momento.
Mas, nem tudo está perdido quando ainda resta uma esperança: existem formas de controlar a inflação. Uma delas seriam as reformas administrativa e tributária, que poderiam trazer mais segurança jurídica ao país (ou seja, torná-lo mais confiável). Com isso, seria possível frear a desvalorização da nossa moeda e alcançar mais equilíbrio no preço do dólar. Também precisamos de líderes políticos que tenham compromisso e responsabilidade com a economia, cuidando dos orçamentos da União, controlando gastos, enxugando custos e melhorando o ambiente de negócios do Brasil, que melhoraria a produtividade do país. Outro ponto (sensível) é a responsabilidade fiscal: assim como uma família precisa gastar menos do que ganha para ter saúde financeira, o Estado também deveria gastar menos do que arrecada (o que não ocorre há muitos anos).
Se a produtividade do país aumenta na mesma proporção que a necessidade de consumo da população, a inflação não seria um problema tão grave. Na prática, afeta a todos, mas os mais pobres são os que mais sofrem com essa realidade. Isso é a economia: um jogo com regras bem estabelecidas, que precisa de pessoas responsáveis e que entendem do jogo para não afetar a qualidade de vida de todos. Até a próxima semana.