Nestes últimos dias dos Jogos Olímpicos de Tókio passamos a ouvir, de inúmeros analistas, especialistas, colunistas e em conversas pelos diferentes meios de comunicação comentários acerca dos resultados brasileiros e dos motivos pelos quais não conquistamos mais medalhas.
As acusações sobre a ausência de patrocinadores, os valores que foram destinados a alguns atletas como soldos pagos pelo governo federal, a falta de incentivo, a carência de oportunidades e, sem dúvida não faltou culpar a Escola e a Educação Física que não forma atletas.
Se formos voltar no tempo, e proponho apenas o ano de 1976, vamos encontrar, nos jornais de cada ano olímpico ou até pan-americano, as mesmas observações e indicações. No entanto, passado o calor da chama olímpica, que retorna ao berço e estará oculta, pelo menos para os gestores da coisa pública, os patrocinadores, tudo voltará ao mesmo estágio. Abandono dos atletas à própria sorte. Alguns patrocinadores também voltarão a investir, apenas quando estivermos às portas de Paris.
A escola se torna, também, alvo das propostas salvadoras e propulsora de medalhas olímpicas reproduzindo o modelo elitista e voltado para o esporte e não para as pessoas em formação. Felizmente, contamos com professores que atuam na educação básica que conquistam interpretar sua função social e não atendem ao que lhes é apresentado. No entanto, ainda convivemos com gestores que apresentam a competição esportiva no seio das escolas como forma de educação. Porém, o modelo excludente que valoriza apenas os que querem e sabem jogar são envolvidos pela disciplina Educação Física, os demais, e sempre os menos hábeis, os que sentem vergonha do próprio corpo e de suas habilidades são os excluídos. Até a terceirização das aulas para academias ocorre em algumas escolas, da iniciativa particular.
Os docentes que atuam nas escolas já, há anos, buscam desenvolver atividades que atendam a todos e todas, que sejam adequadas às habilidades e potencialidades de cada um dos alunos e alunas, não os excluindo e muito menos transformando a aula que é para todos em momentos de preparação das equipes e, ainda mais, apenas das modalidades que denominamos por quarteto hegemônico (basquetebol, voleibol, handebol e futsal).
Cabe lembrar que inúmeros são os benefícios do envolvimento de crianças e adolescentes com as práticas da cultura corporal de movimento, não apenas os esportes institucionalizados. Mas, as federações esportivas e parte dos profissionais ainda buscam, nas escolas, “o melhor espécime humano para a tarefa pretendida” - no caso o esporte que eles dominam.
Em um outro momento que vivemos com um gestor do esporte para deficientes ouvi a seguinte afirmação: - “vou frequentemente aos hospitais, especialmente na ala de traumatologia, em busca de acidentados para o meu time”. Neste campo, podemos retornar ao final da segunda guerra mundial em que, nos Estados Unidos da América do Norte, os feridos de guerra passaram a receber as atenções governamentais com a prática dos esportes adaptados com finalidade social, reinserção e valorização de seres humanos.
Temos muito a trilhar ainda quanto ao reconhecimento, identificação e valorização das atividades da Educação Física Escolar e que, de fato, seja em benefício e apropriação de saberes a todos e todas.
Jamais negaremos o esporte e acreditamos em suas potencialidades, desde que devidamente orientado e com finalidades ampliadas para além da conquista de medalhas. Lembramo-nos de uma frase do radialista Joelmir Betting: “No Brasil a medalha, após os jogos olímpicos, é de lata enferrujada” em termos da atenção que os governos dispensam às práticas da cultura corporal de movimento.