Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Emiliano Fuentes Garcia estava - como de hábito – atento a todos os movimentos. Independente da situação e/ou circunstância, manter-se atento é condição sine qua non, vital, fundamental para a sobrevivência, sobretudo na profissão de Fuentes. No centro da sala ampla, exalando sensualidade em um striptease enlouquecedor e particular, Michelle se despia lentamente enquanto passeava a língua pelos lábios carnudos e lançava olhares sedutores para Emiliano. Depois de algum tempo – tão inebriante que nem mesmo o narrador saberia precisar -, a moça se livrou da minúscula peça vermelha que cobria os últimos centímetros de seu corpo magnificamente esculpido que ainda permaneciam cobertos, e a jogou, delicadamente, na direção de Emiliano.
Ela aproximou-se lentamente – nua e bela. Os bicos túmidos dos seios apresentando-se como duas ilhas atrevidamente imantadas circundadas por auréolas acobreadas. Cada milímetro do impecável corpo arfando num suave arrepio – um irrecusável convite ao prazer. Colaram-se os corpos...
“Michelle, você é o anjo que dá sentido à vida, meu amor”, ele diz depois que saíram do banho.
“Adoro ouvir meu nome em seus lábios”, ela diz, “poderia repetir?”
“Michelle...”
“Quando nos conhecemos, você disse gostar do meu nome, até mencionou a canção de Lennon e McCartney, lembra-se?”
“Michelle, ma belle, these are words that go together well, my Michelle, Michelle, ma belle, sont lês mots qui vont très bien ensemble, très bien ensemble…”
“Canto essa canção pra você desde garotinho”, diz Emiliano.
“Mas nos conhecemos há apenas cinco anos, amor!”
“Conheço você desde sempre, o sonho é o primeiro passo para a materialização do real, o que vivemos agora é a concretização do mais belo sonho que já tive.”
Na madrugada, o casal deixou a casa. Ele com uma Beretta automática num coldre sob a axila, uma parabélum 9 mm na cintura, uma faca de comando presa à panturrilha, duas granadas nos bolsos do blusão e uma pasta modelo executivo na mão. Ela com uma pistola carregada com quinze cartuchos, farta munição e três granadas na bolsa, uma faca presa à coxa direita e dardos envenenados presos à coxa esquerda.
Ele entrou sozinho no bar, fez uma rápida varredura visual no local, dirigiu-se ao balcão, sentou-se em um banco, depositou a pasta modelo executivo no banco ao lado e pediu um uísque. Dez minutos depois, ela entrou no mesmo bar, pediu um chope e, disfarçadamente, ficou bebericando e examinando o ambiente.
Pouco depois, um homem atarracado entrou no bar, depositou a pasta modelo executivo que tinha na mão junto à pasta de Fuentes, pediu um uísque e disse:
“Quando cair a última árvore, o último homem também cairá.”
“O último homem cairá antes que caia a última árvore”, disse Emiliano.
Os dois beberam em silêncio. Quando o homem atarracado saiu do bar, deixou a pasta que tinha trazido e levou a de Fuentes que, evidentemente, estava vazia. Emiliano e Michelle viram quando o contato foi crivado de balas, na calçada.
Naquela madrugada, quando o casal de assassinos profissionais abriu a pasta para averiguar o dossiê do próximo alvo, constatou que o alvo era o próprio Fuentes.
“Outra ameaça”, disse friamente Emiliano.
“Outro homicida”, disse Michelle, “comprei uma lingerie preta estonteante...”
“Enquanto você vai vesti-la, preparo as bebidas e coloco Schubert pra tocar.”