Nos últimos momentos de nossa sociedade, talvez humanidade, temos observado que os sistemas de governo adotados pelos países estão sob a avaliação de seus povos que, em sua maioria, se encontram insatisfeitos, especialmente quanto à ausência de atenção às reais necessidades de toda a sua população.
A insatisfação a que nos referimos tem, em nosso entendimento, surgem, se manifestam e geram movimentos populares quando as questões mínimas da dignidade humana são desrespeitadas. Têm por base a impossibilidade da livre expressão, calar a população é o primeiro movimento dos detentores do poder, quer seja pelo voto ou pela força e opressão.
Basta a leitora e leitor deste texto observar os fatos destes últimos meses, quem sabe um ano em todos os países de nossa humanidade. Uma das ilhas da democracia está em vias de retornar para o comando de uma antiga ditadura de esquerda (a China) que com o regime de escravidão de seu povo, da fome que leva ao consumo de nutrientes nada convencionais, saudáveis ou fruto da atenção produtiva para o consumo humano.
Um outro ponto, a retomada do poder por uma corrente ideológica, supostamente pautada pela religião, e que submete mulheres à condições desumanas de vida, desenvolvimento e existência.
Na Europa, os movimentos questionadores das condições de vida da população no que tange à produção de poluentes e o início da falta de alimentos que atendam a todos e todas, especialmente os mais pobres. Os ricos, como sempre pontuou Michael Foucault, são calados (basta ler o texto Vigiar e Punir), são afastados das políticas de saúde (O surgimento do hospital) e tantos outros relatados pelo autor em seu livro Microfísica do Poder.
Em nosso empobrecido país, caminhando a passos largos para a retomada de fragilidades perpetuadas pelos políticos profissionais (que se considera a elite pensante de nosso país) mesmo estando há muitos anos no poder político em nossa terra, estamos convivendo com sucessivos desgovernos que desconhecem o que venha a ser política pública. Aliás, perpetuam as inúmeras vantagens espúrias que sorrateiramente constroem em benefício próprio (não é necessário, aqui, relatá-las, mesmo porque são inúmeras e aviltantes).
O princípio básico da construção de políticas públicas consiste em prover de recursos, capital humano, espaços e serviços de toda ordem, que atendam as necessidades de cada comunidade. A questão está muito presente nos discursos que não saem das palavras soltas ao vento. Estes discursos nos fizeram lembrar de fala de nosso professor Espozel (Faculdade de Saúde Pública da USP – já falecido) quando se referia a algo que não atingiria o mínimo necessário: “o discurso de políticos é similar a uma flatulência em meio à ventania, ninguém percebe”.
Retomando nossa “Terra Brasilis”, em recente manifestação do presidente da Petrobrás, empresa que na época da ditadura militar tinha como refrão “ Petrobrás é nossa”, afirmou taxativamente que não realizará qualquer redução dos preços dos combustíveis e que seguirá a tendência mundial, mesmo que isto signifique jogar na miséria milhares de brasileiros. Mas, senhora e senhores, os acionistas da empresa recebem dividendos às custas do encarecimento da vida dos mais pobres, vide o valor do botijão de gás.
As políticas públicas em nosso país estão voltadas para uma pequena parcela da população, melhor seria usurpador de toda a população, em prol da manutenção de seus nababescos salários, soldos, vencimentos e a garantia de aposentadorias no mesmo nível dos que se encontram na ativa.
Enquanto isso, a população não conta com empregos para seu mínimo sustento. Argumentam os políticos que subir o salário mínimo encarecerá todo o sistema. E como fica o gás de cozinha, o diesel, a gasolina e, pasmem, o álcool combustível?
Ouso afirmar que estamos em um sistema de massacre intencional das pessoas mais humildes, as mesmas às quais se oferece educação de péssima qualidade, não favorecem o acesso à aprendizagem e desenvolvimento de profissões mais rentáveis (aliás necessidade indicada pelos empresários constantemente) e, como não falar, abandono da promoção da saúde, representada pela morte precoce de 600.000 pessoas.
Dizem que vivemos em uma democracia. Será mesmo que a temos? Ou esta existe entre aqueles que, ainda hoje, ousam dizer: “sabe com quem está falando”?