O autor da aterrissagem forçada foi o habilidoso piloto Vicente Lupo, que fez de tudo para não atingir uma professora e seus alunos
Um avião pousou no Centro de Votuporanga (Foto: Arquivo Pessoal)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
Há 70 anos, em um dia que parecia ser comum, aconteceu algo para lá de inusitado, que até hoje vive na memória de alguns votuporanguenses, mas que nem todo mundo sabe: o dia em que um avião pousou no Centro de Votuporanga.
O que poderia ter se tornado uma tragédia não vitimou ninguém e ainda virou um dos “causos” da cidade. No dia 23 de maio de 1953, o amante da aviação Vicente Lupo, que morreu em 2018, pousou um avião no jardim da Praça da Matriz, na lateral esquerda (lado onde hoje fica o terminal de passageiros) da então Igreja de Nossa Senhora Aparecida, hoje Catedral.
Voando sozinho, ele seguia para o Aeroporto de Votuporanga quando aeronave apresentou um problema de vazamento de combustível, foi então que resolveu fazer um pouso forçado no Centro da cidade, em cima de uma parreira.
O presidente do Aeroclube na época, João Okimoto, chamou Lupo para buscar o avião, que estava parado há algum tempo na Fazenda dos Ingleses. “Eles fizeram o motor funcionar e meu pai veio pra cá, mas, chegando aqui, em cima da cidade, a pane aconteceu e ele procurou um lugar para fazer um pouso de emergência”, relembrou o filho Nicola Lupo, também piloto.
Uma das características do avião era ter o carburador invertido e localizado na parte de baixo da aeronave, com uma cuba (copinho de vidro), que se rompeu, vazou o combustível e o motor parou.
Vicente contava que ao lado da parreira onde aconteceu o pouso existia um salão em que Ormezinda Jatobá lecionava, e que no momento do ocorrido a professora e os alunos estavam no local. No entanto, ele posicionou a aeronave para pousar exatamente onde ele queria para não ocorrer um desastre.
Apaixonado pela aviação desde pequeno, Lupo começou a voar com 17 anos de idade quando tirou o brevet (habilitação de piloto), em 1949. Começou então a fazer táxi aéreo com avião próprio e depois foi fazer o mesmo em Araçatuba. Em 1964 e 1965 foi para Rio Claro tirar licença de instrutor, em um curso ministrado pelo DAC (Departamento de Aviação Civil). Depois regressou para Votuporanga, onde foi instrutor de 1967 a 1984, quando formou cerca de 250 pilotos.
O acidente não mudou em nada o amor de Vicente por voar. Ele seguiu pilotando normalmente mesmo após o acontecido. “Meu pai frequentava aeroclubes com os amigos e a paixão dele era ensinar. Até hoje há pilotos que foram formados por ele”, contou Nicola, que teve o privilégio de ser o último pupilo do pai antes da aposentadoria. “Ele passou essa veia para os filhos, porque meu irmão mais novo, Paulo Henrique, é piloto e o filho dele também é nos Estados Unidos, onde trabalha em uma empresa”, revelou Nicola, que voou 22 anos na Varig, dois na Azul até passar para a aviação executiva por mais 13 anos e posteriormente se aposentar na aviação do Banco Itaú.
O professor de pilotagem faleceu no dia 10 de março de 2018, aos 85 anos. Nascido em Potirendaba aos 8 de julho de 1932, mas votuporanguense de coração, ele foi casado com Juraci Lima Lupo (in memorian). O casal teve os filhos Marcos Luiz, Nicola, Paulo Henrique e Márcia Regina, além de netos e bisnetos.
Os mais antigos até hoje lembram daquele dia inusitado, em que crianças e adultos correram para a Praça da Matriz com o intuito de ver uma aeronave e saber daquela história sem pé nem cabeça. Por essa e outras, o hábil Vicente Lupo sempre será lembrado como um dos grandes pilotos da história de Votuporanga e o único que pousou um avião no Centro da cidade.