A história do município se mistura com a do distrito local, são famílias, como a Fiorentino, que percorreram as modificações do passado, e agora contam essas histórias
Ademir Fiorentino, o conhecido Mirão, na mercearia da família que funciona até os dias de hoje (Foto: Fabíola Fiorentino/Contribuição)
Fernanda Cipriano
fernanda@acidadevotuporanga.com.br
Assim como diversos municípios e também outros distritos da região de Votuporanga se formaram ao redor da famosa Estrada de Ferro Araraquara, Simonsen não poderia começar a sua história de forma diferente. Hoje a malha viária é administrada pela empresa Rumo, mas foi sob os velhos trilhos daquele lado que se deu as primeiras movimentações no distrito de Votuporanga.
Simonsen se formou administrativamente, de forma oficial, com o povoado da Parada F da linha férrea por meio da Lei de nº 233 em 24 de dezembro de 1948, com seis quilômetros de área urbana, considerado um bairro por ser bem próximo de Votuporanga. Era muito conhecida como a vila de “Santo Antônio da Prata”.
Os números do último Censo, o de 2022, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia) não constam números específicos sobre a pequena vila com características votuporanguenses, mas pelas estatísticas Simonsen teria cerca de mil habitantes, em seus mais de 80 km de área territorial.
O distrito pelos olhos de uma família pioneira
O local passou por modificações com o passar dos anos, os seus quarteirões ganharam algumas casas modernas, mas a história ainda respira vive na pacata cidade, de gente acolhedora e amiga. E quem viveu de perto toda a essa transformação foi a família Fiorentino, uma das pioneiras a se mudar para as terras que vieram se transformar no distrito de Votuporanga. Os Fiorentinos chegaram por aqui em 1946 depois de analisar a possibilidade de compras de terra no Sul.
“Meu avô Antonio Fiorentino criou seus 11 filhos com minha avó Maria Amadeu. Meu pai Sebastião Fiorentino (hoje com 96 anos) era o primogênito deles e trabalhou por muitos anos na lavoura de café. Com o desenvolvimento, ele decidiu adquirir a mercearia em 15 de agosto de 1971. Com o tempo, alguns dos seis filhos foram seguir outras atividades e, eu e meu irmão Ivair, ficamos na mercearia onde estou até hoje, completando 52 anos de comércio e 68 de vida”, conta à reportagem Ademir Fiorentino, o popular “Mirão”.
Ademir é casado com Marlene Francisco Fiorentino e pai da jornalista Fabíola Fiorentino, de Marluce e também Suzane. Atualmente, ele reside em Votuporanga, mas segue todos os dias para a mercearia em Simonsen, inclusive feriados e finais de semana.
“Daqui, acompanhamos e participamos, ativamente, do desenvolvimento da nossa vila e de Votuporanga, inclusive com alguns pedaços de terra doados pelo meu avô para construção de espaços públicos”, completou ele.
Junto da reportagem do A Cidade, Ademir viajou no tempo e relembrou em sua memória de quando Simonsen tinha ruas sem asfalto, casas de pau a pique, casas de tábuas. “Muitas pessoas aqui residiam, tanto na vila quanto nas redondezas, e aos finais de semana aqui frequentavam para horas de lazer. Nosso futebol chegou a ter três equipes; eu participava de uma delas como jogador e na diretoria”, disse ele com saudades.
O futebol, durante os fins de semana movimentava o local e trazia grandes torneios de campeonatos amadores de Votuporanga, onde por ali no tradicional campo ficavam após o jogo para confraternizar. Além disso, não podia faltar no fim de semana os bailes.
“Os bailes eram rotina em todos os sábados. Rotina também eram as noites no jardim, em que os jovens paqueravam com as músicas no alto falante da praça. Nas calçadas, eram comuns as famílias e vizinhos se sentarem batendo papo numa amizade muito sadia. Hoje, percebem-se várias mudanças nesses costumes: baile não se faz mais; futebol paralisado; missas com poucas pessoas; outras religiões surgiram, mas também com poucos frequentadores”, disse.
Por lá, todo mundo se conhece e continua com costumes de épocas passadas, são bares, açougues e até mercados de pessoas que viram a boa nova da mudança acontecer diante de seus olhos sem perder a tradição. Tanto é que as quermesses e festas religiosas eram muito famosas. O distrito também tem um público que é sinônimo de muita fé.
“Lembro também com saudades das quermesses, eram várias no ano. Também eram muito tradicionais as procissões em datas religiosas e as missas, que tinha o seu início anunciado com o bater do segundo sinal do sino. Os fiéis lotavam a igreja, que era bem pequena, mas foi passando por reformas e ampliações ao longo dos anos”, declarou.
O progresso é avaliado positivamente por Mirão, que viu o nascer de novos residenciais, comércios, saneamento básico, chegada de indústrias. “Com isso, mudaram-se os costumes, principalmente, os moradores da zona rural que se migraram para as cidades. Hoje, temos aqui boa escola, bom posto de saúde, ótima creche, mas o desejo dos moradores de Simonsen é que façam a interligação do nosso bairro à Votuporanga, com uma marginal asfaltada para evitar acidentes nesses 7km de rodovia”, completou.
A história não para de ser acompanhada de perto pela família Fiorentino e que sente que o dever tem sido feito no progresso do distrito.
“O sentimento que tenho é que estou cumprindo meus deveres com honestidade ao lado do meu pai que, hoje com 96 anos, aqui reside. Meu irmão Ivair ainda mora em Simonsen e os outros estão em Votuporanga (Nivaldo, Clarice, Antonio e Ivanete). Me sinto realizado pelas belas amizades que aqui consegui e ver vários casais formarem suas famílias. Aqui nasci, aqui cresci, formei minha família com três filhas e aqui quero continuar. Nesta vila “Santo Antonio da Prata”, que desde 24 de dezembro de 1948 passou a ser “Simonsen”, finalizou Mirão.