Sem geladeira no IML, corpo da vítima foi sepultado como indigente e, indignados, possíveis familiares cobram o governador Tarcísio
Ivone acredita que o corpo encontrado carbonizado seja de seu irmão Jair Teiche (Foto: A Cidade)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuproanga.com.br
O mistério envolvendo o corpo encontrado carbonizado em Votuporanga no último dia 26 pode estar perto do fim. A perícia ainda não confirmou, mas algumas características físicas apontam que a vítima possa ser Jair de Jesus Teiche, de 65 anos. Sem a identificação confirmada, porém, e sem uma “geladeira” para o armazenamento do corpo no IML (Instituto Médico Legal), conforme teriam informado aos familiares, o cadáver foi sepultado como indigente, o que gerou revolta.
O caso foi relatado com exclusividade ao A Cidade pela empresária Ivone Aparecida Teiche, possível irmã da vítima. Segundo ela, Jair morava próximo ao local onde o corpo foi encontrado e teria saído de casa justamente no dia do incêndio, para sacar sua aposentadoria no banco e não retornou.
“A princípio a informação que saiu lá no local era de que se tratava de um jovem e minha sobrinha tinha dito que ele desapareceu na quinta-feira e como o incêndio foi na quarta-feira, não imaginávamos que pudesse ser ele. Esses dias, porém, vi no jornal que vocês colocaram que poderia ser um idoso, pois ele estava sem os dentes e foi quando ligamos uma coisa na outra”, contou Ivone.
A família então foi até a polícia e foi quando receberam mais informações sobre o corpo, o que a levou a ter certeza, em seu coração, de que se trata de seu irmão.
“Apesar de ainda não ter o resultado do laudo, acredito que seja o meu irmão, pois estive no IML e conversei com o médico responsável, que me disse se tratar de uma pessoa idosa, como o meu irmão, sem dentes e com uma cicatriz na cabeça, que são as mesmas características dele”, completou.
Além da dor da possível perda de um irmão, contudo, o maior choque para Ivone foi saber que o corpo foi sepultado em uma vala comum, como indigente, no cemitério de Votuporanga, sob a identificação J1167.
“Não aceito isso, pois a dor é muito grande. Independentemente do que meu irmão foi, quero que seja desvendado isso e quero provas de que, se ele já estava mesmo morto, o que motivou a morte. Não quero que meu irmão continue sendo apenas o número J1167. Quero que a justiça tire o meu irmão de lá, que façam o teste de DNA, poder sepultar o meu irmão dignamente, todos são merecedores de um enterro digno. Enterraram o meu irmão como indigente e eu não aceito isso”, disse Ivone aos prantos.
Ivone também expressou seu compromisso em buscar uma solução para evitar que outras famílias passem pela mesma situação e afirmou que vai até o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), se preciso for.
“A missão da minha vida vai ser conseguir uma geladeira para o IML de Votuporanga e se for preciso vou até o governador. Disseram para mim na polícia que a questão da geladeira não era problema deles e sim meu e do governador, então vou procurar o governador, pois, pela lei, um corpo, a partir do momento que ele é procurado, ele deve ser preservado por no mínimo 30 dias na geladeira, ou 72 horas se não for solicitado. Então, a partir de agora, não quero que ninguém seja enterrado como indigente por falta de uma geladeira. E se fosse o teu irmão, você deixaria? Tudo indica até aqui que é o meu irmão e mesmo que não seja, não quero que outra família fique sofrendo igual a minha. Não aceito que uma cidade do porte de Votuporanga não tenha uma geladeira para guardar um corpo”, frisou.
Outro lado
O jornal A Cidade questionou a Secretaria de Segurança Pública do Estado sobre a falta de geladeira no IML de Votuporanga e, em nota, o órgão contestou a informação que teriam repassado aos familiares, afirmando que o município conta com uma câmara térmica.
“A Superintendência da Polícia Técnico Científica (SPTC) informa que todas as unidades de perícia médico legais contam com câmaras refrigeradas e manutenção regular. O prazo legal para a liberação de um corpo é a partir de 72 horas. Caso o familiar da vítima não compareça na unidade, o IML, juntamente com a prefeitura, tem a autonomia para realizar o enterro”, diz a nota.