Após a morte de criança, médico Cauê Arroyo Machado, ortopedista e traumatologista do SanSaúde, conversou com o A Cidade
O médico Cauê Arroyo Machado é ortopedista e traumatologista do SanSaúde (Foto: Divulgação)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
Após a morte de uma criança que se acidentou em um brinquedo conhecido como pula-pula, muitos pais ligaram o alerta sobre seus filhos brincarem nesse tipo de cama elástica. Por isso, o jornal A Cidade conversou com um médico, que falou sobre a utilização do pula-pula, apresentou dados sobre acidentes e fez algumas recomendações para diminuir o risco de problemas.
Cauê Arroyo Machado, ortopedista e traumatologista do SanSaúde, lembrou que nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais frequente em eventos infantis de qualquer natureza, a presença quase obrigatória dos mais diversos modelos de camas elásticas (originalmente chamada de trampolim recreativo) e que no Brasil se popularizou com o nome de pula-pula. “O famoso pula-pula multiplicou-se mundialmente desde o início do século XXI, graças a sua popularidade crescente junto à faixa pediátrica. Porém, juntamente com seu sucesso perante a criançada, cresceu em mesmas proporções o número de acidentes ocorridos nestes brinquedos”, alertou.
A grande maioria dos dados estatísticos e publicações relacionadas a isto são da Academia Americana de Pediatria (AAP), a qual estima cerca de 100 mil acidentes por ano nos EUA provocados pelo uso das camas elásticas. Do total de acidentes, 90% ocorre na faixa etária infantil (abaixo dos 14 anos), sendo metade deles em crianças menores de 5 anos.
Os estudos mostraram ainda que do total de acidentes, 75% ocorreram quando os brinquedos eram utilizados por mais de uma criança ao mesmo tempo, comprovando ser esta uma prática que eleva bastante o risco de incidentes. Quanto à natureza das lesões, as mais frequentes são contusões ou torções (principalmente de joelhos e tornozelos), porém, foi constatado que 29% das ocorrências resultaram em fraturas. “As fraturas são mais comuns nos membros inferiores, ocorrendo com maior frequência na tíbia e tornozelo, mas sendo mais frequentemente cirúrgica quando acomete o osso do fêmur”, explicou o médico.
Já as fraturas dos membros superiores, apesar de acontecerem em menor número, representaram um percentual maior de tratamento cirúrgico (20 a 30%), especialmente as fraturas de cotovelo.
Outros tipos de lesões graves, como traumatismo craniano ou trauma raqui medular foram identificados principalmente em adolescentes e adultos, devido a traumas de maior energia ou provocados pela tentativa de acrobacias. Foram documentados ainda, nos estudos da AAP, 34 acidentes fatais, mostrando que, apesar de raros, eles podem acontecer. “Mesmo alarmantes, esses dados não necessariamente devem gerar condutas radicais, como a abolição do uso das camas elásticas, mas deixam clara a necessidade de uma maior conscientização da população quanto aos riscos envolvidos”, destacou.
Recomendações para diminuir os riscos de acidentes em camas elásticas
* A não utilização da cama elástica por várias crianças simultaneamente, devendo ser utilizada com uma criança por vez, ou no máximo com duas de mesmo porte físico, evitando ao máximo que crianças de idades mais avançadas pulem junto com as menores.
* Monitorização em tempo integral por um adulto, que deve controlar o acesso e alertar sobre comportamentos que estejam colocando a criança em risco.
* Deve haver uma avaliação cuidadosa pelos pais sobre o estado de conservação e de segurança do brinquedo contratado, que deve estar equipado com rede de proteção sem vãos e com as molas sempre encapadas para evitar perfurações.
* Controlar a quantidade de tempo que uma mesma criança utiliza a brincadeira, já que o excesso dos movimentos repetitivos também aumenta o risco de lesões musculares e até mesmo ósseas.
* Deve ser desencorajado o uso por crianças na primeira infância (principalmente em menos de 5 anos, onde fatores como a fragilidade óssea, menor coordenação, equilíbrio e reflexo aumentam significativamente os riscos de lesões). “Sabemos que mesmo com todos os cuidados, não eliminamos a possibilidade de acidentes, porém reduzimos (e muito) as chances de ocorrerem, principalmente aqueles de natureza grave e com maiores possibilidades de danos ou sequelas para as nossas crianças”, concluiu Cauê.