Mercado financeiro está de olho no conturbado cenário político do país e na expectativa crescente de aumento dos juros nos Estados Unidos
Após abrir em baixa, o dólar mudou de direção e retomou a trajetória de alta vista nos últimos quatro dias de pregão. Por volta das 11h20, a moeda americana era cotada a 3,49 reais. Depois, por volta das 11h30, perdeu um pouco do fôlego e valia 3,48 reais, com avanço de 0,70%. Os investidores estão apreensivos com a possibilidade cada vez mais factível de aumento dos juros americanos e com as turbulências no cenário político brasileiro.
Nas últimas quatro sessões, o dólar fechou o dia cotado ao valor mais elevado dos últimos doze anos. Considerando apenas os quatro dias, a divisa acumulou avanço de 4,05%.
Nesta quarta-feira, os operadores estão de olho no desenrolar da votação na Câmara do primeiro item da chamada "pauta bomba", que eleva os salários de servidores da Advocacia-Geral da União (AGU) e das procuradorias dos Estados e do Distrito Federal. A preocupação também é grande com os movimentos do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por marcar a votação para hoje. Rompido com a base aliada da presidente Dilma Rousseff, Cunha já articulou a exclusão do PT das novas CPIs e agilizou a votação das contas presidenciais pendentes para abrir a análise da prestação de Dilma Rousseff relativa a 2014.
No Senado, os investidores reagem mal à sinalização de que o presidente do Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve impedir a votação do projeto de desoneração da folha de pagamento, que alivia o caixa federal. A apreensão também é grande também com a informação de que o senador Fernando Collor (PTB-AL) recebeu 26 milhões de reais em propinas no esquema do petrolão.
"Para cada motivo que alguém encontra para vender (dólares), tem dez para comprar", afirmou o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos nacional.
No cenário externo, os Estados Unidos informaram nesta quarta-feira que 185.000 postos de trabalho foram criados em julho. Apesar de o número vir abaixo do esperado por analistas, ainda permanece forte a expectativa de que o Banco Central americano (o Federal Reserve, em inglês) elevará as taxas de juros do país em setembro. O presidente da instituição em Atlanta, Dennis Lockhart, afirmou na segunda que a economia americana já está preparada para isso. Juros americanos mais altos podem atrair investidores que aplicam em outros países, como Brasil, para a maior economia do mundo.
"Não há dúvida de que o Fed não vai demorar para aumentar juros. Agora, é a hora de o mercado fazer ajustes finos, aumentando ou diminuindo pouco a pouco a chance de [alta de juros em] setembro", avaliou o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.
Nesta terça-feira, quando o dólar fechou cotado a 3,46, maior valor em doze anos, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, comentou sobre a sua trajetória de alta. Deu a entender que considerava a valorização natural e que a evolução do câmbio tem proporcionado maior competitividade para a indústria brasileira. "Alguns de nossos principais parceiros estão em momento de ajuste. Muito em breve, os Estados Unidos terão ajuste da taxa de juros. Indicações são bem claras que neste ano deve acontecer o que sempre tem impacto nos preços dos ativos", afirmou o ministro.