Da Redação
O processo de aprendizagem é mais complexo do que se pensa. Ler não se refere
apenas à decifração de códigos, letras e frases, mas sim ao desenvolvimento de
capacidades leitoras diversas, como, por exemplo, a de inferir sentidos. São várias as preocupações de pais e educadores no que se refere às exigências sociais associadas a ela, seja em função de atividades profissionais que exigem comunicação verbal eficiente e boa redação; ou em função de necessidades mais gerais, relativas à inserção social, o que demanda saber ler diferentes tipos de texto, ou mesmo saber utilizar o nível de linguagem adequado a diferentes situações.
Para o professor José Ruy Lozano, ler é mais do que decifrar códigos. Ele destaca a importância da leitura. "Ainda que existam, hoje, muitas mídias que viabilizam o
acesso rápido e irrestrito a informações úteis para a vida cotidiana, o texto escrito é
ainda o meio fundamental de obtenção do conhecimento. Isso porque ele oferece ao leitor possibilidades de interpretação e, portanto, maior autonomia. Quando lemos, também construímos os sentidos, pensamos autonomamente, elaboramos nossas indagações e recusamos, confirmamos e/ou redefinimos respostas. O leitor é aquele que reescreve o significado do texto a partir de sua interação com as intenções de quem escreveu", destacou.
Ele também ressaltou o papel dos pais na aprendizagem. "Se a importância da leitura é consensual, a constatação de que nossos filhos lêem mal desperta grande inquietação, além do desejo de ajudá-los no processo de aquisição da capacidade de ler com eficiência e inteligência", completou.
José Ruy orienta como ajudar os filhos a obter boa leitura. "O primeiro passo para
ensinar a ler textos de maior complexidade é justamente o de compreender o quão
complexo pode ser, para as crianças e jovens, um texto que para nós, adultos, é relativamente fácil ou óbvio. Nesse processo, não existem obviedades. O que é claro e evidente para mim nem sempre o é para uma criança. Ela detém um repertório mais restrito, tanto de palavras quanto de experiências", frisou.
"O que nos induz ao próximo passo: ensinar a ler exige a intervenção ou a mediação
ativa de quem propõe a leitura, sejam pais ou professores. E tomando o cuidado de
não ler para a criança, substituindo sua experiência de leitura. É preciso ler com a
criança, questionando-a sobre passagens que ocultem implícitos importantes para a
compreensão global do que se lê, além de estabelecer relações de significado que, de outro modo, passariam despercebidas. Assim, estaremos ensinando que ler é mais do que decifrar letras: ler é pensar sobre o que se lê. E isso fará toda a diferença no futuro", emendou.
O professor enfatizou que é preciso possibilitar o acesso da criança à maior variedade
possível de textos, em diversas situações sociais de leitura. "Ler é algo que se
desenvolve por meio da imersão em sua prática, não atividade exercida de modo
descontextualizado da vida em sociedade. De acordo com essa visão, o adulto precisa
mostrar para a criança como os textos que circulam na sociedade podem ser usados, a
fim de que ela compreenda os seus sentidos. Charges ou tirinhas de jornal, por
exemplo, muitas vezes não são compreendidas pelos mais novos. “O que tem de
engraçado aqui?” perguntam-se. Isso ocorre quando o efeito de humor passa por um dado cultural desconhecido pelo jovem leitor. Esse dado pode ser apenas uma palavra de duplo sentido ou até mesmo um pressuposto que exige o reconhecimento de fatos políticos ou históricos", argumentou.
Propagandas estabelecem relações de sentido que podem ser inferidas de acordo com a intenção daqueles que as produziram e com o público a que se destinam os produtos. Uma notícia pode ser escrita com diferentes intencionalidades, visando a finalidades que não são apenas as de informar. Da mesma maneira, um artigo de opinião pode refletir tendências ideológicas de quem o publica. "A criança precisa ser ensinada a ler com profundidade. Ao questionarmos nossos filhos sobre todas essas complexidades, em diversas situações sociais, estaremos evidenciando a eles que ler envolve “um montão de coisas”, o que provavelmente os induzirá a ler não somente com maior atenção, mas também de modo mais inteligente. A atitude do adulto diante da leitura deve ser positiva, se ele quiser influenciar o jovem a ler mais e melhor. Essa postura inclui necessariamente um envolvimento afetivo com o que lê. O adulto é quem oferece um modelo de leitura para o aluno-leitor, servindo-lhe de exemplo e espelho. Caso a criança não reconheça a importância da leitura nas atitudes do adulto, seu modelo, qualquer estratégia será em vão", concluiu.