Da Redação
É difícil para o adulto aceitar que é natural a criança sentir prazer sexual. Mas, para
Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan (Centro de Estudos da Sexualidade Humana), é na infância que construímos os alicerces que compõem os elementos centrais da sexualidade: a vinculação afetiva, a configuração da imagem corporal, a identidade sexual básica como homem ou mulher, a segurança e conforto como ser sexual, os medos e as preocupações. E também as sensações eróticas. "Quando pensamos em prazer sexual, imediatamente nos remetemos à excitação sexual e ao orgasmo. Mas para chegarmos até aí, antes, foi importante vivenciar outras formas de prazer decorrentes da descoberta do corpo, do carinho e da intimidade que irão interferir diretamente na relação afetivo-sexual, permitindo a entrega, a confiança e a cumplicidade", destacou.
Ela explicou que tudo começa no decorrer do primeiro ano de vida. "A primeira fase é aquela que Freud chamou de fase oral, na qual a sucção é a manifestação sexual característica. Mas, o prazer não está unido, apenas, à estimulação e à riqueza de sensações da mucosa da cavidade bucal e dos lábios. O alimento, o leite materno ou de mamadeira, morninho, desliza pelo seu aparelho digestivo, aliviando a dor causada pela fome. Neste momento, além de saciar, o ato de amamentar propicia o aconchego e o calor do colo materno, a conversa e a troca de olhares. Este contato materno propicia a consolidação da imagem corporal, o estabelecimento de zonas erógenas e a experimentação de emoções e sentimentos associados às sensações de prazer e desprazer que ajudam a confirmar o vínculo afetivo", disse.
A diretora ressaltou que é a forma como a criança é atendida em suas necessidades
que dá a ela a dimensão de sua importância e a aprendizagem do amor. "A criança
ama do jeito que se sente amada. Por isso, que acredito que a melhor forma do
professor ensinar um aluno a amar e a ter auto-estima é amando, respeitando e valorizando suas necessidades", complementou.
Em torno do segundo ano de vida, a criança adquire a capacidade de aumentar a
percepção e a coordenação motora. "Ela consegue cada vez mais explorar o ambiente, adotar maneiras de expressar emoções e perceber a importância do controle de certas vontades. É o início da sociabilização! Quem exerce maior influência neste processo são os pais, mas os professores também significam muito para os seus alunos e despertam neles, o desejo de agradá-los e sentir confirmado seu bem querer e aprovação", contou.
Para a criança sentir prazer nesse processo de aprendizagem ele precisa ser gradativo, desenvolve-se num contexto de baixa tensão e sem desgaste emocional dos pais ou educador. "A criança é simplesmente levada a imitar o comportamento correto e recompensada sempre que o fizer", afirmou.
Aos 3-4 anos de idade, por meio da observação, manipulação e percepção das
sensações corporais, a criança faz a diferenciação sexual de si e do outro. "É um
período de investigação sexual. Daí surgirem os famosos porquês. Como se de repente a criança começasse a enxergar as coisas. Ela precisa conhecer e entender o que acontece à sua volta. Através de perguntas, vai testando as diferenças entre os sexos (homem tem barba, mulher tem seios) e demonstra interesse tanto em relação aos adultos como a outras crianças", disse.
Os bebês pequenos e as barrigas de mulheres grávidas exercem grande atração sobre ela, desencadeando uma série de perguntas do tipo: Como se faz um bebê? Como ele entrou na barriga? Por onde saiu? "As respostas devem ser dadas numa linguagem que a criança compreenda: clara, curta e convincente. Se a criança voltar a perguntar a mesma coisa para outra pessoa, não se irrite e nem se sinta frustrado na sua resposta - crianças costumam testar as respostas dadas", orientou.
Mas a curiosidade não para aí! "Descobre que é gostoso tocar em determinadas partes do corpo, principalmente a região genital. E tudo que lhe causa prazer, ela tende a repetir. É quando pode começar os episódios de masturbação, se bem que o termo não me parece apropriado para essa fase. A masturbação envolve pensamento erótico e isso a criança ainda não tem. O adequado é falar manipulação dos genitais", complementou.
Nesta fase, que Freud designou de genital, se constrói, entre outras coisas, o alicerce da intimidade com o prazer genital. "Quando a criança pode identificar e perceber as sensações que seu corpo é capaz de produzir, isto permite uma intimidade consigo mesma, que será importante por toda a sua vida", destacou a diretora.
Esta fase, no entanto, costuma ser crítica dentro da escola, porque em geral os
professores não sabem que atitude tomar ao surpreender a criança tocando nos
genitais. Em vez de fazer a adequação deste comportamento sexual para o ambiente
social, o adulto acaba entrando em pânico e não fazendo nada; e, a criança, não
aprendendo as regras e repetindo o ato. "Na escola, o professor deve lidar com
naturalidade diante da manifestação sexual das crianças, mostrando claramente que
aquilo é natural, mas, que o local e o momento não são adequados. Para a criança
compreender melhor, se pode ensinar o conceito de público e privado, dizendo que os genitais são partes íntimas que não ficam expostos e, portanto, não devem ser tocado na frente de outras pessoas. Mas, atenção! Se depois desta conversa a criança continua a se toca de maneira insistente, o professor deve ficar atento ao fato da criança estar querendo para chamar a atenção, ou ser de ser examinada por um pediatra para avaliar a possibilidade de alguma coceira ou infecção nesta região", explicou Maria Helena.