Da Redação
Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão. Quem ainda acredita que a terceira idade está restrita a cadeiras de balanço, agulhas de tricô e partidas de gamão não conhece a vida do idoso contemporâneo. Uma pesquisa divulgada este mês pelo Programa de Novas Dinâmicas do Envelhecimento aponta que os brasileiros estão mais felizes quando chegam na terceira idade. Segundo o estudo, realizado por pesquisadores ingleses entre os anos de 2002 e 2008, a maioria dos idosos brasileiros se considera “satisfeita” ou “muito satisfeita” com suas condições de vida, com o respeito que recebem dos familiares e com o relacionamento mantido com outras pessoas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados do Censo Demográfico 2010 apontam que a população idosa no País cresce, enquanto diminui o número de jovens com até 25 anos. E esse crescimento parece mesmo ser uma tendência. Uma pesquisa do Banco Mundial prevê que em 2050 o número de brasileiros com mais de 65 anos deve saltar dos atuais 20 milhões para 65 milhões - ou seja, será três vezes maior. "Hoje estamos envelhecendo cada vez mais e melhor. Isso se deve a diversos fatores, como melhoria da qualidade de vida e avanço da medicina", destaca Rita Khater, professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Segundo ela, há alguns anos a representação social do idoso era a do dependente, inválido ou mesmo inútil. "Ainda existe muito preconceito com relação à velhice, mas estamos evoluindo. Isso porque o crescimento da população idosa é significativo e, naturalmente, a sociedade vai sendo obrigada a se transformar para quebrar esses paradigmas", afirma a professora.
Existir x produzir
A psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP, explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. "Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz.
Isabella ressalta, no entanto, que com o aumento da expectativa de vida, as pessoas passaram a se deparar com um futuro pós-aposentadoria de 20 ou 30 anos. "Isso é uma grande novidade: a pirâmide se inverteu. Se antes o número de jovens era superior ao de idosos, hoje temos um crescimento muito maior de pessoas na terceira idade", observa. De acordo com a professora Rita Khater, antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho.
É por isso que grande parte dos idosos, quando se aposenta, parte para a realização de projetos de vida. Viagens, cursos e a prática de esportes são apenas alguns exemplos de atividades comumente escolhidas pelos mais velhos. "Quando se sentem livres das obrigações formais, as pessoas tendem a olhar mais para si mesmas e a fazer o que realmente querem. Muitos idosos vivenciam a aposentadoria como um renascimento; uma possibilidade de ter novas experiências e realizar antigos sonhos", diz Maria Cristina Dal Rio, professora do curso de Aperfeiçoamento em Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae.