Querendo repetir o sucesso que alcançou a versão original de 1975, a emissora está investindo em belos cenários
A Globo está se esmerando para tornar o remake de “Gabriela” uma de suas maiores produções, afinal, na década de 70, a novela fez o enorme sucesso e consagrou Sônia Braga como uma das principais atrizes da televisão brasileira. A cena que se tornou um clássico da teledramaturgia nacional e entrou para a história da televisão foi a sequência em que Gabriela sobe no telhado para pegar uma pipa.
Só para relembrar, “Gabriela” foi produzida originalmente pela Rede Globo em 1975 e foi ao ar de 14 de abril a 24 de outubro daquele ano, às 22 horas. Escrita por Walter George Durst, a trama foi adaptada do romance “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado, dirigida por Walter Avancini e Gonzaga Blota, com 132 capítulos e abordava a seca nordestina e a pacata cidade litorânea de Ilhéus da década de 1920. “Gabriela” foi escolhida pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor produção de 1975.
Agora, no ano do centenário do escritor Jorge Amado, a Globo prepara um remake da obra inspirada em “Gabriela, Cravo e Canela”, um dos maiores clássicos do autor. A escolhida para dar vida desta vez à ousada Gabriela foi a atriz Juliana Paes.
A história se passa na Bahia dos anos 20, tempo em que Ilhéus vive o apogeu da cultura do cacau. A pequena cidade foi levantada a ferro e fogo pelos coronéis que residem e mandam por lá, liderados por Ramiro Bastos (Antonio Fagundes), o representante do conservadorismo. Aparentemente sólida, essa hegemonia é ameaçada pela chegada do exportador carioca Mundinho Falcão (Mateus Solano), o progresso em pessoa. A cidade partida entre a moral conservadora e os novos tempos mais liberais; as quengas do Bataclã e a política – todos param ao ver Gabriela. Uma retirante da seca, que depois de atravessar a caatinga, chega a Ilhéus a procura de emprego. Nacib (Humberto Martins), um imigrante árabe dono do Vesúvio, bar mais conhecido do lugar, enfrenta a busca desesperada por uma cozinheira. A oferta de um lado e a procura de outro preparam os dois para um encontro quase marcado! Vendo que Nacib hesita em contratá-la, Gabriela dispara: “moço bonito”. O árabe cede à ousadia da moça e aceita seus serviços às escuras, sem ao menos ver seu rosto, coberto de poeira e terra, assim como os trapos que escondem seu corpo. Cozinheira de mão cheia, Gabriela surpreende o patrão e faz dele o homem mais afortunado de Ilhéus. Com cheiro de cravo e cor de canela, sua sensualidade é tão casual quanto ela. Uma mulher alheia aos costumes da época, que vai colocar à prova tudo quanto for sentimento humano e seus questionamentos morais: o amor, a traição, o ódio, o rancor, o perdão.
Esta versão de “Gabriela” está sendo escrita por Walcyr Carrasco, com direção de núcleo de Roberto Talma e direção geral de Mauro Mendonça Filho.
As gravações
Como a Globo quer fazer bonito e caprichar no remake de “Gabriela”, e para isto garantir a audiência no horário das 22 horas, as gravações da novela já começaram e está bem adiantada. As primeiras cenas foram gravadas na Serra das Confusões, dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. “Nas pesquisas de locação me deparei com a Serra das Confusões. Ambiente rochoso com horizonte quase infinito. Lugar ainda pouco conhecido e de beleza deslumbrante. Não tive dúvidas que começaríamos por ali”, conta Mauro Mendonça Filho, diretor-geral da obra. Ao todo foram 16 dias de gravações pelo nordeste brasileiro com mais de 200 profissionais envolvidos e quatro caminhões transportando equipamentos, figurino, cenografia e produção de arte.
A caminhada de “Gabriela” só tinha começado. Depois do Piauí, a primeira parada foi na Bahia. Elenco e equipe chegaram, então, no Junco do Salitre, sertão de Juazeiro. Foi lá, no meio da caatinga nordestina, que foram gravadas as cenas nas quais Gabriela se despede de sua casa e foge com seu Tio Silva (Everaldo Pontes) da seca que assolava o lugar. Na busca por uma vida menos sofrida na famosa Ilhéus, Gabriela e seu tio esbarram com outros retirantes, Clemente (Daniel Ribeiro) e Negro Fagundes (Jhe Oliveira). A terra árida, o ar sem umidade, a natureza retorcida, o chão vermelho, compõem o cenário desta árdua travessia.
Nas outras cenas gravadas, Gabriela e seus camaradas chegam ao seu objetivo final. É a vez de uma nova locação: “O centro histórico de Canavieiras, na Bahia, preserva a arquitetura típica local do início do Século XX. É o cenário perfeito para representar a Ilhéus dos anos 20, uma cidade em pleno crescimento”, explica Mauro. Lá foi gravado o encontro de Nacib e Gabriela. A cena contou com 150 figurantes locais, caracterizados pela equipe de Labibe Simão, figurinista, e Juliana Mendonça, supervisora de caracterização. Através de pesquisas iconográficas, literatura e referências históricas, a direção de Arte, liderada por Mario Monteiro, preparou Canavieiras - por meio da cenografia e da produção de Arte, assinadas respectivamente por Marcelo Carneiro e Silvana Estrela - para viver o porto e o mercado de Ilhéus do começo do Século XX. Outra cena gravada em Canavieiras foi a chegada pelo mar de Mundinho Falcão, com Príncipe Sandra (Emilio Orciollo Netto) e Anabela (Bruna Linzmeyer), até o porto. Em terra eram esperados por Douglas (Jackson Costa) e Dr. Pelópidas (Ilya São Paulo).
As fazendas de cacau, ainda existentes na cidade de Ilhéus, serviram de paisagem para as cenas com o Coronel Melk Tavares (Chico Diaz), Negro Fagundes, Clemente, Coronel Altino (Nelson Xavier) e Mundinho Falcão.
Agora as gravações da novela estão concentradas no Rio de Janeiro, nos estúdios do Projac.
Participação especial
Com figurino e caracterização dos anos 20, Ivete Sangalo dá vida a Maria Machadão, a toda-poderosa do maior cabaré de Ilhéus: o Bataclã. No Projac, a cantora concentrada, se entregou ao personagem. “Estou muito ansiosa para ver o resultado final. Sou fã de Jorge Amado e, para mim, é uma honra atuar em um trabalho baseado em sua obra”, disse Ivete. Lembrando que na versão original, Maria Machadão foi interpretada magistralmente pela saudosa atriz Eloísa Mafalda.
Agora, aos telespectadores resta esperar a trama estrear na tela da Globo para conferir se a segunda versão de “Gabriela” vai repetir o sucesso alcançado em 1975.