Baseado em textos escritos há mais de 50 anos, “Correio Feminino” mostrará a atemporalidade dos temas abordados pela escritora
A partir deste domingo, dia 27, o “Fantástico” mostrará a série “Correio Feminino”, numa claríssima homenagem a jornalista e escritora Clarice Lispector que nas décadas de 1950 e 1960 assinava a coluna “Correio Feminino – Feira de Utilidades” para o jornal carioca “Correio da Manhã”. Baseando-se nas crônicas de Lispector foram criados oito episódios, com cerca de dez minutos cada um, recheados de assuntos tratados naquela época, mas que fazem parte do universo feminino atual.
“Clarice, protegida pelo pseudônimo de Helen Palmer, tratou do universo feminino. A Clarice de "A Paixão, Segundo G.H". e "A Hora da Estrela" todos conhecem. Poucos, no entanto, sabem como se iniciou a trajetória da Clarice jornalista. Desde sempre me impressionei com a modernidade destes textos, sem falar na linguagem da autora, que mesmo escrevendo a partir de coordenadas jornalísticas, fundou uma linguagem híbrida, que eu chamo de máscara-Clarice, onde se unem opostos como o real e ficcional; mas, antes de tudo, onde se instaurou a feminilidade no jornalismo brasileiro através de um discurso absolutamente direto com suas leitoras”, explica o diretor da atração, Luiz Fernando Carvalho.
Em “Correio Feminino”, Maria Fernanda Cândido é Helen Palmer, pseudônimo de Clarice Lispector, e é ela quem narra todos os episódios – nunca aparece de frente, apenas em pedaços. Na adaptação, ela é apresentadora de um programa de rádio e TV e sua voz representa uma figura afetuosa, sempre pronta a socorrer leitoras aflitas. Na série, Helen se relaciona com uma representação de três gerações de mulheres: a top model Cintia Dicker é a “adolescente”; a ex-modelo Luiza Brunet, a “mulher madura”; e a atriz Alessandra Maestrini, a “mulher jovem”. Elas simbolizam as várias facetas do feminino e vão dialogar com a narrativa em off de Helen Palmer, sem se encontrarem.
Segundo o diretor Luiz Fernando Carvalho, Luiza Brunet é a estrela da atração. “Luiza traz um certo ar de época, de beleza clássica, que eu considerava uma referência fundamental para a estética do trabalho. Posso dizer, sem medo de errar, que Luiza é quem dá o tom, quem talvez até tenha me dado o tom de como fazer a coisa toda desde o momento em que a escolhi. Depois dela foi fácil imaginar as pontas da narrativa, não que as pontas não sejam importantes. São fundamentais, mas a Luiza é o centro de tudo, é uma referência do passado e ao mesmo tempo do futuro”, conceitua Carvalho. A personagem interpretada pela ex-modelo é uma mulher madura que percebe o tempo passar, enquanto que a adolescente (Cíntia Dicker) percorre os caminhos de uma menina com a sensualidade à flor da pele, cheia de atitude.
A “mulher jovem” será vivida por Alessandra Maestrini que, dentre as três escolhidas, é a única atriz. Na série, sua personagem percorre o longo caminho entre uma mulher jovem e insegura, desengonçada, até uma mulher que se casa e constitui a sua família. Mas, essencialmente, e em todas as fases, uma mulher que ama.
Já Maria Fernanda Cândido faz uma costura comprometida entre Clarice Lispector e Helen Palmer: “Alguns dizem que são dicas para mulheres, outros falam que são assuntos um pouco banais, mas eu acho que nessa superficialidade a gente encontra toda a profundidade de Clarice. Uma das coisas que eu acho fundamentais, e que ela propõe, é que você seja você mesma e que não tente reproduzir ou copiar algum modelo que está sendo imposto, que você consiga fazer esse encontro com você mesma. É preciso trabalhar com essa realidade que é a sua existência, mas, dentro dessa realidade, você pode fazer muita coisa e tem um caminho enorme. Logo, ela fala de beleza, sedução, moda, de forma que você não seja uma vítima da moda. Use o que lhe cai bem. Tem uma parte que ela fala: ‘Não tente copiar os rostos que estão aí estampados nas capas de revista, olhe para o seu rosto. Olhe para o espelho, faça esse encontro com você mesma e perceba que você tem muito trabalho pela frente, pois, às vezes, é um pequeno detalhe que você pode acrescentar que vai fazer toda a diferença e mudar completamente a sua maneira de ser percebida pelo mundo’, explica Maria Fernanda.
“Isso é muito revolucionário. Acho que a microrrevolução é tão fundamental quanto a macrorrevolução. É tudo anos 60, mas vale perfeitamente para hoje. Na década de 60, a gente tinha ali todo o início do que a gente pode chamar de cultura de massas, que foi nessa onda do pós-guerra, anos 50 e 60, quando começou a ter publicidade, marketing e propagandas, que foram massificando um pouco esse consumo. Então, questões que hoje a gente acha que são muito nossas e desse tempo, na verdade, não são. A mulher que começou a trabalhar, começou lá”, finaliza Maria Fernanda.
O “Fantástico” exibirá os episódios “Aulinha de Sedução”, “Espelho Mágico”, "Ser Mulher, ser Moderna", “Receita de Casamento”, “Caprichos de Mulher”, “Ser Mãe”, “Fada do Lar” e “A Mulher do Futuro”, ao longo de dois meses.