Nascido em Taquaritinga, em 24 de outubro de 1.928, João Antônio Nucci é filho de Miguel Nucci e Ondina Lofrano. Casou-se com Nely J. Pereira Nucci (in memoriam) em 18 de dezembro de 1.951. Tiveram três filhas: Maria Ângela, Maria Célia e Maria Estela, todas nascidas em Votuporanga.
Formado em Odontologia, em 1.950, pela Faculdade de Odontologia e Farmácia de Araraquara, veio para Votuporanga conhecer a cidade e o Hotel Municipal que seu sogro, Alexandre, havia adquirido do senhor Atílio Pozzobon. Logo que aqui chegou, ficou impressionado com o movimento do município de apenas 15 anos de criação, embora não tivesse nenhum conforto, equipamento de infraestrutura, pois não havia água, esgoto e asfalto.
“Para quem morou em Campinas, Araraquara, Taquaritinga, Matão e frequentava Jaboticabal, cidades com toda a estrutura, era para se decepcionar, mas não, achei natural para um município menino, que prometia crescer. Nos fins de semana, tinha o intenso burburinho de charretes, carrinhos, carroças, tratores com carretas, trazendo produtos do campo. Caminhões levando sacos de arroz, algodão e café para as usinas de benefício, coisa que eu não via de onde eu vim”, destacou.
Tudo isso, despertou em João Nucci o interesse de estudar com carinho a instalação de seu consultório e começar uma vida nova em Votuporanga, que muito prometia para a sua carreira, pois de todos os profissionais, ele seria o segundo a sair de uma faculdade e já exercia a odontologia em um distrito de Matão.
O forte daquela época em Votuporanga era a agricultura e pecuária, aliadas a um comércio ativo e pujante, pois a cidade tinha grandes casas atacadistas e cerealistas que refletiam diretamente na economia e no desenvolvimento. “As pequenas indústrias começavam a esboçar em oficinas, em especial no fabrico de móveis, cuja indústria pioneira foi depois a AB Pereira, seguida por uma dezena delas e, hoje, as indústrias da cidade já estão diversificadas e contribuem de maneira direta, não só no emprego de mão de obra, como na economia. Tudo isso de pujante, a rua Amazonas, artéria da economia, só tinha calçada, não tinha asfalto, era pedregulhada e molhada duas vezes por dia por um carro-pipa da Prefeitura para apagar a poeira. Quando chovia, era um barro só”, lembrou.
A energia elétrica, na época, era precária, fornecida por um motor estacionário à diesel de propriedade particular e funcionava até meia-noite, depois, escuridão total nas ruas; nas casas, lampiões, lamparinas, velas, faroletes, etc. Assim continuou até ser criada a companhia elétrica de Votuporanga e, mais tarde, foi instalada pelo Governo de Jânio Quadros a “micro usina gerada à diesel” e, logo depois, veio a Cesp e atualmente a Elektro, consagrando, desta maneira, o desenvolvimento de Votuporanga.
De malas para a nova cidade
“Muito bem, para Votuporanga me mudei em 1.952. Instalei meu novo consultório nas dependências de um escritório na rua Amazonas, que pertencia à Casa Mattos, filial de São Paulo, para onde mudaram, e o restante do imóvel, na ocasião, foi ocupado pela loja De Haro”.
Depois de algum tempo, tendo que desocupar o escritório, transferiu o consultório para a rua Santa Catarina, onde ficou por aproximadamente dois anos, de frente onde é a LaSom. Nessa época, a rua Amazonas já recebia o asfalto, na gestão do prefeito Hernani de Mattos Nabuco, e foi para todos, principalmente o comércio, motivo de grande alegria, pois era uma conquista muito desejada. “Era o sapato preto da menina, como era chamado o asfalto na época e, assim, começava a dar uma nova vida para a cidade”, lembrou.
Da rua Santa Catarina, o consultório e sua residência foram transferidos para casa própria na rua Pernambuco, imóvel que João Nucci adquiriu do agrônomo João Camareiro e onde é hoje o Edifício Miguel Nucci.
“Neste época, fui convidado a dar aulas de química no curso científico, hoje ensino médio, prestes a ser instalado no então recém-criado Instituto Educacional Dr. José Manoel Lobo, isso porque não tinha na época professor habilitado e os poucos não vinham para Votuporanga, pois ia funcionar apenas o primeiro ano do científico. Relutei, porque meus clientes, grande parte da zona rural, amanheciam na porta do consultório e eu começava cedo, 6h30 já estava trabalhando. Ia até meio dia e depois das 14h até 20h”, contou.
Quando disseram a João Nucci que para instalar o referido curso era necessário que o quadro de professores estivesse completo, caso contrário Votuporanga não teria as aulas, ele aceitou o convite da direção e iniciou uma uma nova experiência, agora na educação, com autorização do MEC por força do seu diploma do curso superior. Era uma autorização provisória, a ser renovada todos os anos e, assim, teve como amigos vários colegas, uns médicos, outros engenheiros, advogados, lecionando juntos e com o mesmo objetivo.
“Foi uma experiência válida para mim. O contato com o jovem parece até que renovava as minhas forças e fui me adaptando à nova atividade, ajustando horário do consultório com as aulas e, assim, passados cinco anos, a estabilidade me pegou e fiquei até me aposentar em outra atividade da educação. Fui para a Delegacia de Ensino (cujo titular era o professor Benedito Israel Duarte) ser responsável do setor de autorização para lecionar”.
No mandato do prefeito Dalvo Guedes, em 1.964, por força de uma portaria, foi nomeada a “Comissão Pró-Instalação da Facle (Faculdade de Ciências e Letras)”, constituída de seis membros: professores Benedito Israel Duarte, Iris Barbieri, Cícero Barbosa Lima, Luiz Garcia de Haro, Floriano Marzochi, todos de saudosa memória, e João Nucci. A função deles era elaborar documentos para a instalação de uma faculdade em forma jurídica de autarquia. “No final, depois de tanta luta, esperança e desprendimento, pois era um serviço relevante prestado ao município, foi criada a tão almejada Facle e, depois, no governo do prefeito Nabuco, a Facica (Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas), que juridicamente se transformaram em fundação e hoje está aí a Unifev, orgulho de todos nós, em especial daqueles que plantaram a semente em solo fértil”, falou.
Homem Público
Em 1.975, João Nucci é eleito presidente da Fundação Educacional de Votuporanga para o biênio 75/76. Como os demais, está registrado nos anais do Memorial da Unifev, na rua Pernambuco. No término de seu mandato como presidente, foi convidado por amigos e lideranças políticas a ser candidato a prefeito. “Aí, relutei muito, mas muito mesmo, pois teria que assumir uma grande responsabilidade como candidato e, principalmente, se eleito, ainda mais que a política não era a minha praia”, contou.
Já despontavam três candidatos lançados, dois do MDB e um do PFL, respectivamente: Iris Barbieri, Mário Pozzobon e Waldir Gonçalves de Lima, que já tinham iniciado a campanha há quase 30 dias. “Depois de muitas idas e vindas, acabei aceitando ser candidato pelo antigo PFL2, sendo o vice o saudoso Onofre de Paula”.
João Nucci saiu vencedor e, assim, assumiu sucedendo o prefeito Luiz Garcia de Haro, no início de 1.977, em janeiro daquele ano, em um longo mandato de seis anos, até 1.982. “Votuporanga crescia, como nas outras administrações”, comentou.
Terminado o mandato de prefeito, voltou para a Delegacia de Ensino, de onde se afastou para se candidatar. No mesmo setor, onde permaneceu até 1.987. Nesse ano, foi lançado novamente candidato a prefeito, tendo como vice Dorival Veronezzi e como concorrentes dr. Jesus da Silva Melo, PMDB, e professor Antônio Barbom, PT, saindo vencedor pela segunda vez e assumiu a Prefeitura em 1.988 para cumprir, agora, quatro anos de mandato. “E a cidade continuava crescendo e aumentavam também os problemas”.
Depoimento
“Nas duas administrações de 10 anos, fiz tudo o que podia fazer, não tudo o que queria, pois os recursos da época eram parcos, tanto municipal quanto estadual e federal, pois a inflação assustadora corroia qualquer orçamento. Porém, foram 10 anos da minha vida, dos 61 que aqui estou, que vi esta cidade crescer, florescer e se transformar num município acolhedor e bonito, que desperta orgulho para todos os pioneiros que já se foram e para seus descendentes, para todos aqueles que fizeram desta terra no oeste paulista sua morada, sua pátria. Me considero um homem realizado e feliz, tanto como homem público que fui como chefe de família, pois aqui aportei, cheio de vigor, esperança e entusiasmo na juventude dos 24 anos e com esta idade fui pai, aqui constitui minha família, exerci minha profissão e outras atividades com lealdade, arregimentei inúmeros amigos, sinceros e leais. Embora não tenha mais a minha companheira, que Deus a levou, para compartilhar na nossa velhice de cabeça erguida, no convívio de nossas filhas e netos, mas que muito, muito mesmo lutou ao meu lado, em todas as horas, como esposa, mãe, companheira, presidente do Fundo Social, implantando vários programas de cunho beneficente como a festa da Primavera, que se repetiu por muitos anos, enquanto prefeito, e para colher agora os frutos que outrora juntos semeamos como dedicação, amor e carinho. Se eu tivesse que fazer novamente o meu trabalho, eu faria tudo outra vez igual. Em todos os sentidos, apenas procurando corrigir os erros que involuntariamente tenha cometido. Só tenho a dizer obrigado Votuporanga por me receber de braços abertos e propiciar a minha felicidade e de minha família, me dando a oportunidade de exercer com dignidade a minha missão como profissional e homem público. Obrigado!”