Quem nunca comeu uma caixa de Bis por ansiedade, uma folha de alface por vaidade, um (ou uma) cafajeste por saudade?
Como disse Andressa Mendonça, esposa de Carlinhos Cachoeira, “afinal, quem está livre de ser preso?”
E Wagner Love, o centro-avante do Flamengo, solidário com o atacante Diego Maurício, 19 anos, quer saber: “Quem nunca capotou com o carro?”
Quem nunca vendeu uma casa de quase R$ 2 milhões sem olhar sequer quem é que assinou o cheque?
Quem nunca comprou uma grande empresa, a sexta maior empreiteira do Brasil, com 30 mil funcionários e 200 contratos com o Governo, sem pagar um único centavo, sem precisar assinar um só cheque - que, aliás, nem seria conferido?
Quem nunca comprou uns cem imóveis em São Paulo, todos baratinhos, por coincidência quando trabalhava no setor de concessão de licenças para construir?
Quem nunca soube que vender carne e construir uma estrada são trabalhos similares, tão parecidos que a empresa que faz um faz também o outro?
Quem, como o deputado Francischini, nunca disse que o adversário é tchuchuca com os amigos, tigrão com os inimigos, ameaçou bater num parlamentar de meigo nome e depois pediu que os insultos fossem retirados dos registros?
Quem nunca pensou que por aparecer nos jornais e na TV estivesse roubando a cena - enquanto a Turma do Mensalão, em silêncio, está roubando o cenário?
Ta, te, ti, Thor
Desculpe o esquecimento, caro leitor: mas, numa notícia como a anterior, não poderia faltar o mais inocentado dos motoristas de carros de luxo, Thor Batista. Quem nunca teve um acidente com um Audi top de linha, outro com um Mercedes McLaren, um pequeno problema que provocou a apreensão de sua Ferrari?
Talvez só aquele empresário de Goiás, que teve um acidente trágico com seu Bentley e, para não ficar sem carro enquanto as peças do carro viajam da Inglaterra a São Paulo, comprou um Rolls-Royce zero - primeiro e único de Goiânia.
Falou e disse
Do ex-presidente Lula, dizendo que não consegue descansar mais de três dias seguidos: “Faz parte da minha genética, sempre fui habituado a trabalhar.”
Transparente. E bom.
A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, colocou na Internet seu demonstrativo de pagamento, demonstrando assim apoio à divulgação dos vencimentos dos servidores da cúpula do Judiciário. Bela medida, sem dúvida.
Permitiu-nos saber que seu plano de saúde lhe custa R$ 122,14 por mês.
Pela culatra
O PT se jogou na luta pela CPI do Cachoeira visando dois alvos: o senador Demóstenes Torres, de Goiás, então no DEM, e o governador goiano Marco Perillo, PSDB. Acertou Demóstenes em cheio. Marconi tem-se mostrado mais difícil: o DEM quer atingir o governador fluminense Sérgio Cabral, PMDB, mas ligadíssimo ao Governo Federal; e os adversários do PT querem pegar também o governador de Brasília, Agnelo Queiroz. A defesa de Cabral é feroz; a de Agnelo, nem tanto.
Mas pegar um governador só, deixando os outros de lado, é difícil.
Tiro explosivo
O outro objetivo petista na CPI do Cachoeira acabou explodindo em suas mãos: a tentativa de desmoralizar o procurador-geral da República, enfraquecendo assim as repercussões do julgamento do Mensalão. Não funcionou: o procurador-geral Roberto Gurgel ficou ainda mais forte e os ministros do Supremo rejeitaram as pressões políticas.
Com CPI, sem CPI, o Mensalão será logo julgado.
Os aliados
Mas, cá entre nós, entre os principais críticos do Mensalão estão o senador Fernando Collor, do PTB, e o delegado Protógenes Queiroz, do PCdoB. É esperar demais que procurador e ministros do Supremo fiquem impressionados.
Pelo ralo - 1
Enquanto a seca mata e destrói no Nordeste, nas obras de transposição do rio São Francisco o que marcha mais rápido é o pagamento. Os trabalhos deveriam estar concluídos neste ano; mas só 36% foram realizados. O custo total, que chegaria a R$ 4,6 bilhões, já está em R$ 8,2 bilhões. A entrega foi adiada para 2015.
Pelo ralo - 2
Sabe a falta de verbas, o déficit de leitos nos hospitais, os salários baixos de médicos e demais profissionais de saúde, por falta de verbas?
Pois alguma verba, pelo menos, existe; e foi gasta no Instituto Vital Brazil, no Rio, para comemorar o segundo aniversário da cobra Sivuca. Na festa, houve feijoada, show de forró, touro mecânico, tudo com dinheiro público originalmente dedicado à saúde - aquele que, dizem as autoridades, só vai aparecer se cobrarem mais impostos. Mas quem manda não ser ter sido nomeado ministro do Supremo, para ter plano de saúde de R$ 122,00?
Quem manda não ter nascido cobra?
A voz do povo
Quem nunca comeu melado quando come se lambuza.
*Carlos Brickmann é jornalista