Vai-se distante o tempo em que eu sonhava em ser um grande líder mundial, e com poderes para acabar com a fome, com as injustiças, com a violência e com a poluição dos mares, do ar. Acabaria com a poluição das cidades, proibiria a caça, não aceitaria as injustiças e, mais que isso, faria da terra um paraíso. Se eu tivesse todo esse poder, faria dos homens seres perfeitos.
Os anos vão passando e, quando os cabelos brancos nos tornam seres mais conscientes de nossas limitações, tudo o que sonhávamos vai se reduzindo a doces sonhos, resquícios de insignificâncias que, somadas, definem bem o que somos: humanos, simplesmente humanos.
Abro os jornais, vejo os avanços que algumas nações conseguiram. E vejo a receita que eles adotaram numa terapia que, para nós, parece impossível de ser implantada. Eles investiram pesado na educação, enquanto nós, brasileiros, aceitamos apenas a imposição mentirosa de que somos a nação do futuro, como se o futuro não fosse uma planta cujas sementes precisam ser semeadas, hoje.
Volto à minha condição de sonhador. Imagino escolhermos uma determinada região do país, e ali, em escolas devidamente equipadas, colocarmos crianças das sete da manhã até as sete da noite. Elas chegariam para um café da manhã, teriam almoço, lanches em horários determinados, e iriam para casa ao início da noite, depois de um jantar servido na própria escola. E durante todo o período que estivessem no recinto escolar, teriam o acompanhamento de pessoas motivadas, bem preparadas e conscientes dos seus direitos e dos seus deveres.
Teríamos professores bem treinados, devidamente remunerados, equipamentos modernos, apropriados para o ensino; a escola teria nutricionistas, psicólogos, dentistas e até médicos de plantão. Para isso, utilizaríamos parte da mão-de-obra de profissionais formados em universidades públicas, como forma de retribuir um pouco do que obtiveram em sua formação.
A escola seria uma extensão do lar, e os professores e seus funcionários seriam respeitados pela população e pelos alunos. Além disso, os pais teriam que acompanhar de perto o estudo dos filhos. E alguns anos depois de implantado o sistema, faríamos uma comparação entre essa escola pública e as mais avançadas escolas particulares, de todo o país. E, acredito, teríamos uma resposta natural, que não causaria espanto nem ao mais ingênuo pesquisador: equilíbrio na formação desses alunos, e um grande passo na formação de nossos cidadãos.
E sei que muitos dirão que é utopia, que estamos muito longe disso. Sim, é verdade. Sei que estamos distantes, mas ninguém terá coragem de dizer que isso é algo impossível de ser realizado. Difícil, quase impossível, é retiramos petróleo de uma profundidade de milhares de metros, no fundo do mar; dificuldade é aceitarmos como normal um país investir milhões na construção e reforma de estádios de futebol, para um evento que vai durar apenas um mês, enquanto setores básicos são relegados a um terceiro, quarto plano.
Difícil é a certeza de que, mesmo grandes iniciativas como as implantadas atualmente no Estado de São Paulo no que se refere ao ensino tecnológico ainda não conseguimos sanar as nossas carências de pessoal especializado. E, mais grave ainda é a constatação de nossa condição de reféns da falta de mão de obra especializada, e de vítimas do conformismo que sempre foi uma característica de nossa nação. O momento é agora, o terreno é fértil e as sementes precisam ser colocadas no solo, pouco importa em que região do país ele esteja situado.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia eInformação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br