Que é que tem a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, CPMI, a ver com a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável? Quem respondeu “nada” está errado. Nesta semana, a CPMI não se reúne porque, a uns mil quilômetros de distância, realiza-se a Rio+20. Descanso geral - pois, todos sabem, trabalhar cansa. E dá um tempinho legal para que os ânimos se acalmem e os parlamentares inconvenientes que querem explicações do empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, que não as quer dar, o esqueçam.
Cavendish trabalha em silêncio. Tudo o que não quer é falar; tudo o que não quer é aparecer (pois quando apareceu, integrando a Turma do Guardanapo, formada por pessoas inebriadas pelo poder e pelo dinheiro, ficou mal nas fotos). Esteve reunido em Paris com dois integrantes da CPMI: Cyro Nogueira e Maurício Quintella Lessa. Ambos viajavam às custas do Tesouro,com as respectivas esposas, para uma missão parlamentar em Uganda, e voltaram por Paris onde, por acaso (foi o que disseram), encontraram-se num restaurante com Cavendish.
O deputado Cândido Vaccarezza, do PT paulista, alegou que a CPMI foi criada para investigar atividades e vínculos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, e não pode perder o foco investigando a Delta - que, a propósito, abasteceu com R$ 47 milhões as contas de empresas de Cachoeira. Ciro Nogueira, o do almoço em Paris, encaminhou a votação contrária à convocação de Cavendish.
Até agora funcionou direitinho: o trabalho em silêncio tem dado bons resultados.
Recordando
Há mais uma coisa em comum entre a CPMI e a Rio+20. O ferocíssimo defensor da moralidade pública Fernando Collor, que quer atingir de alguma forma o procurador-geral da República Roberto Gurgel, era o presidente da República quando se realizou a primeira conferência da ONU no Rio, há 20 anos.
A frase
Do editor Jayme Serva: “Agnelo Queiroz diz na CPI que é vítima de uma trama. Por que será que esses misteriosos fabricantes de tramas insistem em ter como alvo gente envolvida em tramoias?”
Caminho das pedras
Ainda há quem conte piadas de luxemburguês no Brasil. Aquelas, sabe, que sempre começam assim: “O Joakinsky e o Manuelsky (...)”. Pois, diante da onda de assaltos a bares e restaurantes de São Paulo, vários deles situados a poucos minutos, a pé, de algum posto policial, o governador Geraldo Alckmin decidiu tomar providências. Determinou energicamente que, em datas festivas como o Dia dos Namorados, réveillon e outras, haja reforço no policiamento de locais onde haja concentração de bares e restaurantes.
Nos demais dias do ano os assaltantes poderão agir normalmente.
Alô, alô, Haddad!
Alguém se lembra da indignação do candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, quando a polícia estadual, com ordem da Justiça e tudo, desocupou prédios da USP ocupados por estudantes? Pois bem: Haddad, quando ministro da Educação, abriu unidades da Universidade Federal de São Paulo em Guarulhos e esqueceu a formalidade de instalar salas de aula. Os universitários têm aulas numa escola primária municipal, no intervalo dos turnos das crianças, ou em prédios abandonados há muitos anos, cheios de entulho. E como é que a Unifesp, até há pouco tempo subordinada a Haddad, lidou com uma manifestação estudantil em que se pedia espaço para estudar?
Simples: chamou a PM tucana - exatamente aquela cuja presença na Universidade era contestada por Haddad. Houve tiros, balas de borracha, vidros quebrados, prisões - o de sempre. Só faltou a presença de Haddad.
O ex-ministro, hoje candidato, evaporou-se: nem no cabeleireiro de costume (o mesmo da presidente Dilma e da ex-prefeita Marta Suplicy) ele apareceu. O candidato petista à Prefeitura é sábio: há ocasiões em que o silêncio é de ouro.
Pura maldade
Comentário no Facebook: “O candidato sumiu! Onde está o Haddad? No Itaim? Qual deles, o Bibi ou o Paulista?” O candidato petista à Prefeitura paulistana não sabia que na cidade há dois bairros grandes, ambos chamados Itaim: o Bibi, chiquérrimo, e o Paulista, numa região muito mais pobre e desassistida. Como dizia Jânio Quadros de seu adversário Fernando Henrique, “ele não sabe onde fica Sapopemba”.
Jânio sabia, e ganhou a eleição.
O nosso é deles
Este colunista já sabe o que o caro leitor vai achar: que é despesa demais. Mas Suas Excelências explicam: a despesa é necessária. Querem passar de R$ 60 mil para R$ 75 mil mensais a verba de gabinete dos deputados federais, para que possam remunerar melhor os 25 assessores que podem contratar sem concurso. Não dá para trabalhar com 25 assessores; tanto não dá que nem cabem no gabinete de Sua Excelência. Em geral, ficam no gabinete uns cinco assessores, e os outros vinte, supostamente, prestam serviços no escritório da base eleitoral do nobre parlamentar.
Custo: R$ 92,3 milhões a mais por ano. E vai passar.
*Carlos Brickmann é jornalista