A combinação do crescimento econômico em termos globais com o crescimento populacional e, acima de tudo, com o contemporâneo espírito de consumo desenfreado aumenta a pressão sobre os ecossistemas já deteriorados. Há 20 anos, desde a Rio-92, por ocasião do encontro da Cúpula da Terra, ficou decidido que o moderno paradigma econômico, energívoro e destruidor da biodiversidade, teria que ser urgentemente superado em nome de um novo paradigma, denominado “desenvolvimento sustentável”.
O que foi feito? A situação se agravou enormemente. Efetivamente, parece que a força mobilizadora do medo é maior que o da convicção teórica. Parece que ainda não chegamos ao fundo do posso. Parece que o medo da morte da possibilidade da própria continuação da vida ainda não está muito presente. Infelizmente, o que rege a mente humana ainda não é a ética do cuidado, a espiritualidade da comunhão, a ótica da complexidade e da responsabilidade social e ambiental.
Estamos às portas da Rio + 20, alimentando as reflexões sobre a necessidade de economia verde para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável. Embora qualquer decisão que venha a ser tomada já se encontre em absoluto descompasso com o que o planeta exige, é mais uma oportunidade que a humanidade tem para acordar. Já nos tornamos vítimas das mudanças climáticas provocadas por nossas próprias mãos, por meio de nossos modelos de desenvolvimento e de sociedade. Antes de morrermos, contudo, deveríamos, por uma questão de responsabilidade, garantir a vida para os demais seres, que aqui viviam muito antes de nós e que o direito de continuar a existir em um ambiente reequilibrado.
Aos meus colegas educadores, o mais imediato e próximo que devemos fazer é colocar o nosso currículo, o nosso conteúdo programático como meio a serviço da formação de uma nova consciência, ao construirmos competências e habilidades absolutamente vinculadas à ética da defesa da vida. De que vale um currículo ou um programa de ensino por si mesmo? É muito medíocre a nossa atitude ao dizer: “preciso correr para cumprir o programa”. Um programa que se transformou em fim/finalidade transformou todo resto em meio, em instrumento, quando ele deveria mesmo é que deveria ser o instrumento.
Que o contexto da Rio + 20 seja momento propício para revermos nossa prática pedagógica e para iniciarmos o processo de libertação da educação para a sua verdadeira finalidade, da educação da alma humana para a coexistência harmoniosa com as demais formas de vida. Com isso, a finalidade da educação deve estar muito longe de preparar para o mercado, embora o mercado comece a olhar para a sustentabilidade como critério de seleção de investimentos. A educação não deve ser refém de projetos econômicos, desenvolvimentistas, políticos partidários.
O foco da educação deve ser o próprio ser humano, em seu necessário processo de humanização. Quando os humanos estiverem mais humanizados, quando souberem ser senhores de seus próprios impulsos e manifestarem, efetivamente, competências e habilidades relacionadas com o domínio de suas paixões e se revelarem capazes de orientar suas energias psíquicas para a preservação da vida, então sim, a educação estará cumprindo sua missão essencial.
A educação da consciência ecológica consiste na aprendizagem da ética do cuidado com as nossas casas, desde a nossa primeira infância. As nossas casas são o ecossistema, a cidade, o nosso corpo físico, a nossa mente. Em todas essas casas é preciso aprender a exercer o cuidado, a preservação, o verdadeiro investimento que promove a harmonia do todo.
Aos professores que se tornam mestres nessa difícil arte de lapidação da alma humana, na educação da sensibilidade humana para o espírito da comunhão, na construção de uma cultura da solidariedade, nossa estima e gratidão.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador