Os primeiros dias de maio de 1994 foram para nós, brasileiros, bastante tristes. Havíamos perdido o nosso piloto mais famoso, o jovem Ayrton Senna, vítima de um acidente no circuito de Imola, na Itália, durante um Grande Prêmio de automobilismo. Depois do acidente, o que se viu foi o drama de uma população machucada, à espera de notícias, até que a tragédia se consumou.
Mesmo o público pouco ligado ao automobilismo sentiu a perda, e o país parou para assistir ao funeral, realizado dias após, aqui na capital paulista. Além dos milhares de admiradores que passaram pelo local dos funerais, centenas de profissionais de imprensa, de todo o mundo, registraram as infindáveis demonstrações de dor, mas também de seriedade e de organização.
Eu era presidente da Assembleia Legislativa quando ocorreu o fato. Meses antes da tragédia, havíamos decidido instalar grades no entorno do Palácio Nove de Julho, protegendo a mais famosa Casa de Leis de nosso país. E recebemos muitas criticas porque, a “Casa do Povo” deveria permanecer aberta a todos, de modo a que a população tivesse amplo acesso.
Não contrariamos essa ideia, uma vez que o acesso ao prédio continua permitido, mas contribuímos para que fosse implantado o atual programa de segurança adotado pela Assembleia Legislativa. E foi exatamente essa proteção que propiciou o eficiente e organizado sistema para que a população pudesse despedir-se de seu ídolo, quando da morte de Ayrton Senna. A organização, a maneira ordeira como se portou a população, e a paixão pelo ídolo foram destaque na imprensa em todo o mundo.
Estou tocando no assunto porque, há alguns dias, vândalos atacaram o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret. O monumento faz parte do acervo do Parque Ibirapuera, de grande valor arquitetônico, histórico e cultural. O fato em si já justifica e nos dá razão por termos cercado o Palácio Nove de Julho, também integrante do complexo do Ibirapuera. Naquela ocasião a nossa postura foi considerada uma atitude um tanto rude; no entanto, decorridos tantos anos, quem garante que, aberto, sem proteção, o prédio ainda estaria intacto?
Seria ótimo se pudéssemos usar este espaço apenas para lembrarmos do ídolo, e a sua importância para o nosso país. No entanto, usamos o fato para salientarmos a falta de respeito para com os nossos bens culturais. Houve um tempo, em que o desrespeito a um monumento ao patrono de uma de nossas instituições gerou a crítica por parte de um famoso cartunista. E ele usou a ironia para condenar a postura dos vândalos. Mas não foi entendido pelos militares, e foi chamado para dar explicações. Felizmente os tempos são outros, mas está na hora de exigirmos explicações e começar a punir a irresponsabilidade desses irresponsáveis que não sabem a diferença entre protesto e vandalismo.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br