A expressão do título do artigo não é minha, muito menos é um desrespeito às minhas queridas leitoras e leitores. Foi o que disse, ou gritou, da tribuna do parlamento espanhol a deputada Andrea Fabra, quando o premier (primeiro ministro) espanhol Mariano Rajoy do Partido Popular, o mesmo da deputada, anunciava da tribuna uma redução no auxílio desemprego, ‘para evitar comodismo’. Segundo a Carta Maior – ‘Que se jodan!’: o escárnio neoliberal. Acredite, isso é a Europa hoje, 15.07.12 -, “Andrea Fabra não conteve o júbilo pela dupla punição e esgoelou diante das câmeras: ‘Que se jodan’, enquanto os companheiros do PP aplaudiam”.
O anúncio da redução no auxílio desemprego na Espanha torna-se mais grave, diante do quadro socioeconômico espanhol e europeu. “Irene Fernández perdeu seu emprego nos correios da Espanha há cinco meses, vítima dos cortes de gastos do governo. Desde então, ela sobrevive com dinheiro emprestado da mãe e dos 530 euros que consegue por mês cuidando dos cachorros dos vizinhos: “Nunca tive um ano tão difícil”, diz ela. “Começo a perceber que as coisas serão muito mais difíceis para mim do que foram para a geração de minha mãe” (Valor Econômico, Internacional, A12, 10.07.12).
O quadro é quase desesperador. A crise econômica europeia está atingindo mais duramente jovens como Irene. A taxa de desemprego entre os jovens está perto de 53% na Grécia, 51,5% na Espanha, 35% na Itália. Economistas temem que anos de desemprego poderão produzir uma versão europeia da ‘Geração Perdida’ do Japão na década de 90. Os trabalhadores jovens são, em geral, os últimos a serem contratados e os primeiros a serem demitidos. (Não foi diferente no Brasil na década 1990, com reflexos sentidos até hoje).
Os países estão adotando programas de austeridade e reduzindo o número de servidores públicos. Companhias anunciam demissões ou congelam contratações para enfrentar a queda da demanda. O colapso dos mercados imobiliários eliminou empregos no setor da construção, muitos dos quais mantidos por trabalhadores jovens. Trabalhadores mais velhos, com finanças arruinadas pela recessão e crise financeira, aposentam-se mais tarde.
Resultado: ondas sucessivas de jovens vêm se formando no ensino médio e superior com poucas chances de conseguir emprego, elevando ainda mais a taxa de desemprego entre os jovens. E o pior: as perspectivas são de pouca melhoria. Mais de metade dos países da zona do euro estão em recessão e a economia do bloco como um todo deverá encolher 0,5% este ano, segundo o FMI. Como disse a jovem gaúcha Emília Xavier, moradora de Barcelona desde 2007: “Não tem ninguém que eu conheça que pense em ficar” (Zero Hora, 15.07.2011, p.5).
O veterano e respeitado jornalista Mauro Santayana escreve em ‘O crime organizado pelos banqueiros’ (Site Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim, 15.07.12): “O mundo se tornou propriedade dos banqueiros. Os trabalhadores produzem para os banqueiros, que controlam os governos. Se os governantes do mundo inteiro fossem realmente honrados, seria a hora de decidirem, sumariamente, pela estatização dos bancos e o indiciamento dos principais executivos da banca mundial. Eles são os grandes terroristas de nosso tempo. Os terroristas comuns matam dezenas ou centenas de cada vez. Os banqueiros são responsáveis pela morte de milhões de seres humanos, todos os anos, sem correr qualquer risco pessoal. E ainda recebem bônus milionários”.
A presidenta Dilma Rousseff falou na cerimônia de batismo da Plataforma P-59, em Maragogipe, Bahia, 13 de julho: “Eu quero dizer para vocês uma outra coisa: hoje o mundo passa por uma situação de crise internacional. Eles, hoje, em vários países do mundo, estão fazendo o seguinte: cortam o décimo terceiro salário, como foi o caso da Espanha nesta semana, cortam 30% dos salários dos vereadores, aumentam os impostos e o país vai de mal a pior. Tem países europeus hoje com uma taxa de desemprego de 25% e com uma taxa extraordinária de quase metade da população jovem.
O Brasil está em outro caminho. O nosso caminho não é esse, não é igual ao deles. O nosso caminho é manter o nosso desenvolvimento e buscar, cada vez mais, garantir que os bônus, as vantagens e os lucros desse desenvolvimento sejam distribuídos pelo povo brasileiro. Foi-se o tempo em que era concebível que o bolo precisava crescer primeiro para ser distribuído depois. Agora, nós, à medida que construímos o bolo, nós repartimos o bolo. E isso leva sempre a um bolo muito maior que o inicial. Podem dizer o que quiserem, mas um desenvolvimento só merece esse nome se beneficiar a cada um dos brasileiros e brasileiras.”
Perguntada sobre as expectativas quanto à sua volta ao Brasil em breve, a jovem gaúcha Emília Xavier respondeu: “Quem voltou está se dando bem. Eu senti que estava ficando para trás por estar aqui”
*Selvino Heck é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República