A deputada Jaqueline Roriz continua na Câmara, embora tenha sido filmada recebendo propina. O senador Cyro Nogueira foi fotografado com o empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, em Paris; logo depois se opôs à convocação de Cavendish pela CPI do Cachoeira. Continua no Senado. Inocêncio Oliveira, que cavou poços em suas fazendas com máquinas do Governo, continua na Câmara.
Denise Leitão Rocha, a assessora do senador Cyro Nogueira que foi filmada fazendo sexo, foi demitida. Denise Rocha é solteira, transou com um rapaz solteiro, ninguém tem nada com isso; é maior de idade; o lugar em que ocorreu a cena definitivamente não é um prédio público. Parlamentar corrupto pode; roubar dinheiro público pode; mas escolher um parceiro sexual de sua preferência, sem qualquer envolvimento do Tesouro, isso parece que não pode. Rua, pois.
Denise Rocha é advogada e tem como lutar não apenas por seus direitos, mas também contra quem divulgou o vídeo sem seu consentimento. Parece que portais especializados no tema andaram vendendo ou alugando as imagens, o que é crime. E o senador Cyro Nogueira que nos perdoe, mas sua declaração é um horror: “É uma situação complicada, não vejo condições de ela desempenhar o trabalho dela depois disso. Porque ela trabalha nas comissões, não é dentro do gabinete”.
Traduzindo, os outros não podem vê-la, mas ele poderia.
O rapaz do vídeo parece um assessor do senador Sérgio Petecão, mas diz que foi confundido. Por que não o investigam também? Discriminação de gênero?
Gastando à vontade
Há coisas em que é até difícil de acreditar. O suplente de Demóstenes Torres, Wilder Morais, do DEM de Goiás, tomou posse no Senado na sexta-feira, 13. Só tomou posse: mesmo que quisesse trabalhar, não o conseguiria, porque o Senado não funciona às sextas-feiras. Sua cerimônia de posse durou três minutos. Na segunda e na terça, houve sessões, mas Wilder Morais não apareceu. Na quarta, o Senado entrou em recesso e só voltará a funcionar em agosto.
Wilder recebeu R$ 16.300,00, referentes ao período de 13 a 31 de julho - nos quais esteve ocupado por exatos três minutos. Cada minuto que Wilder levou para tomar posse custou ao contribuinte R$ 5.430,00. É legal - faz parte daquelas leis que políticos de caráter precário elaboram para beneficiar-se sempre que possível. Mas ganhar sem trabalhar é imoral. O dinheiro público é de todos nós. E, como se sabe, aquilo que é de todos é como se não fosse de ninguém. Só de quem sabe apropriar-se daquilo que, se tivesse vergonha na cara, nem tocaria.
Ilustrando o ministro
Que feio, Aloízio Mercadante! Aquele político combativo, que lutava por melhores salários para os professores, mudou de ideia agora que é ministro da Educação e poderia realizar aquilo que defendia? Ser ministro compensa a mudança?
Mercadante estudou Economia; talvez não conheça o cancioneiro medieval. Pois vai lá um poema que talvez o inspire a retornar a suas posições originais.
“Meu Rei me pediu a espada, minha espada lhe ofertei/ com lâmina de Toledo e copo de ouro de lei./ Meu Rei desejou meu elmo, escudo, couraça...lhe dei/ sempre os usei nas batalhas, lutando pelo meu Rei./ Meu Rei me pediu bravura, nas guerras me desdobrei/ Lutei com ardor e raça pela glória do meu Rei/ Meu Rei desejou meu cavalo, fui eu mesmo que domei/sem relutar fui infante para atender a meu Rei./Meu Rei me pediu a honra da farda que sempre honrei/de coração contristado, eu disse não ao meu Rei./ Dei-lhe a espada de Toledo com copo de ouro de lei/ Mas honra é bem de família que dos ancestrais herdei.”
Retorna, Mercadante
Aloízio Mercadante é professor; seu pai, o general Waldir Muniz Oliva, foi não apenas professor, mas diretor da Escola Superior de Guerra. Como pode suportar ver seus colegas por dois meses em greve?
Como pode concordar com o aumento, oferecido pelo Governo Federal, de 0,85%, e só daqui a três anos?
Aumento para baixo
Segundo relata o sempre bem-informado colunista Lauro Jardim, de Veja, delegados da Polícia Federal fazem a seguinte conta: em 2001, no Governo Fernando Henrique, o salário para delegados e peritos aprovados no concurso da Polícia Federal era de R$ 7.563.
Agora, no Governo Dilma Rousseff, o salário oferecido é de R$ 13.368. Para manter o mesmo valor, considerando-se a inflação oficial do período, deveria ser de R$ 17.310 mensais.
Coisa estranha
Um especialista em Polícia Federal, daqueles que já viram urubu ficar branco e passarinho comer onça, estranha muito o assassínio do agente federal num cemitério de Brasília. Considera pouco habitual um agente visitar o túmulo dos pais num dia normal, no horário de serviço. Talvez houvesse ali um encontro marcado.
O fato é que o assassínio de um agente envolvido em investigações de tamanho porte gera necessariamente uma cachoeira de suspeitas.
As verbas de segurança
A PM de Brasília vai gastar R$ 200 mil em quatro mil medalhas e diplomas, para homenagear sabe-se lá quem. Faz parte da verba de segurança pública.
*Carlos Brickmann é jornalista