A Escola é o tempo e o espaço da socialização, da aprendizagem da convivência. Considerando que nela se encontram diversas etnias reunidas, ela é o lugar da aprendizagem do espírito democrático e republicano.
Contudo, as nossas crianças, adolescentes e jovens trazem do berço familiar e cultural um profundo preconceito, em diferentes âmbitos da vida: preconceito étnico-racial, de gênero, de grupos socioeconômicos, de diferente orientação sexual, de diferentes identidades territoriais, em relação a portadores de necessidades especiais etc. E o reconhecimento de que há um profundo preconceito latente na realidade brasileira torna-se o ponto inicial para a sua superação. Chega a ser um absurdo e uma contradição insustentável encontrarmos o preconceito e a discriminação atuantes nos centros educativos. Nessa lógica, a escola perpetua a estrutura e a dinâmica social, ao preparar de forma desigual e injusta os alunos para este mundo no qual o preconceito é latente e manifesto.
Contra essa corrente, a primeira função da escola é problematizar e desnaturalizar esse preconceito discriminatório que existe em nossa sociedade. Essa percepção do preconceito se torna possível mediante a tematização das desigualdades sociais, geradas por um processo histórico de discriminação ou de privilégios para grupos socialmente dominantes. A partir da tematização do preconceito, poder-se-á verificar sua natureza irracional ou emotiva e refletir sobre suas possibilidades de superação.
O absurdo do preconceito teórico que caminha para a discriminação prática está em negar a mesma dignidade às pessoas e em atribuir à natureza realidades que foram produzidas culturalmente.
Entre as possibilidades de superação destacamos a necessidade de elaborar projetos pedagógicos que demandem como conteúdo e como metodologia o encontro de diferentes etnias, gêneros, grupos socioeconômicos, portadores de necessidades especiais, de diferente orientação sexual, de diferentes identidades territoriais etc. Sem a convivência, não há possibilidade de quebrar as predisposições afetivas negativas. Por isso, a escola precisa criar espaços de vivências verdadeiramente democráticas. Esse é um conteúdo a ser apreendido de forma muito significativa. Qualquer revolução política posterior se tornará possível somente sobre essa base.
Essa superação das discriminações, de qualquer natureza, na esfera escolar, é condição fundamental para caminharmos na direção de uma sociedade verdadeiramente democrática, na qual a diversidade cultural possa ser defendida e valorizada. Assim, a aprendizagem do diálogo interétnico deve ser conteúdo programático e atitudinal que as escolas devem proporcionar aos seus alunos.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador